Tomei posse dizendo que estava com mais sonhos do que em 2005 – para sonhar não há limites – porém, e sobretudo, com os acrescidos calos da vida. Sonho como Bandeira: “Com que sonho? Não sei não./ Talvez com me bastar /– Ah feliz, como jamais fui”.
A volta enseja caminhar sem demasiadas surpresas. A gente conhece melhor armadilhas e atalhos. Deus, como fez no passado, haverá de me guiar e meus confrades não me deixarão sozinho.
Não voltei para reforçar currículo ou servir à biografia. Não faria isso. Voltei para os fazeres do bem, dos bem-fazeres.
Não me soando bem a palavra volta, preferi servir-me de um toque arcaico que melhor pode se ajustar ao sotaque pernambucano e digo: obrigado por me darem este momento de retornança.
O tempo encontra o tempo. Outra vez na vida declaro-me pronto para um novo depois.
Machado de Assis, novamente ele – sempre ele – distinguia continuidade de continuismo. Essa clave tinha em mente ao abrir a sessão inaugural de 1897. Breve – como se intuísse a regra do Twitter - nosso fundador conclama os confrades do tempo e os vindouros a se manterem fiéis à tradição e à dinâmica do tempo.
Lutarei para que se ampliem os trajetos no sentido de que a Academia seja ainda mais vista e ouvida.
Todos acompanhamos a geração que parece ter nascido com controle remoto e mouse à mão. Basta um clique e a tela muda. É vital que nos afinemos com os moços. Examinaremos mais opções na internet, Twitter, e-books, para habituais transeuntes nestas nossas paredes.
A continuar aprendendo com Machado, parodiemos o conceito do mestre: nem tudo se faz com o patrimônio dos antigos, nem tudo se faz com os haveres do moderno, mas com os dois constrói-se o começar comum.
Cultura, realidade dinâmica, envolve movimento, tradição e criação. Cultura é compreender, conviver com o outro, respeitar diversidades. Diversidade cultural é fator de coesão e não caminho de fragmentação.
Cultura há de ser a unidade dos momentos, o que é bem diferente de ser mera unicidade.
Estabeleçamos aliança com o país que ainda está chegando. Sem esse enlace, no futuro não haverá como preservar a tradição. Seremos pó. Fazer a ligação entre a tradição e a modernidade, sem concessões ao modernoso, é ato de bom senso.
O professor Luiz Otávio Cavalcanti fala de que o tempo se compõe de duas lâminas, a que corta por fora tem a transparência das cores, a que opera por dentro recupera pelo mergulho nos sentimentos.
A Academia aceita e convive com essas lâminas, também de antenas e raízes. Os meus companheiros de diretoria são toreutas. A eles compete conduzir o cinzel se o presidente não souber fazê-lo. Confio nos companheiros e apelei na oportunidade pela ajuda do plenário acadêmico.
Jornal do Brasil (RJ), 31/12/2009