Há pouco, escrevi aqui que, nos anos 1920, enquanto a noite do Rio se estendia até o nascer do sol, o resto do país estava dormindo de touca e camisola. Leitores estranharam a camisola —os homens ainda a usavam naquela época? Sim, e tenho provas.
Em sua biografia, o jornalista Austregésilo de Athayde conta que, em outubro de 1930, a poucas horas da chegada dos insurretos ao Rio para depor o presidente Washington Luiz —e apesar da possibilidade de resistência das tropas federais—, Assis Chateaubriand, já magnata da imprensa, estava tão certo da vitória que, bocejando, vestiu sua camisola e disse ao amigo que ia tirar uma soneca. E que, se Austregésilo também quisesse dar um cochilo, pegasse uma camisola no armário, o que ele fez. Bem, se Assis Chateaubriand e Austregésilo de Athayde dormiam de camisola em 1930, explica-se por que o Gordo e o Magro sempre apareciam de camisola em suas comédias daquele ano.
A verdade é que o pijama, embora já existisse, ainda não se firmara como o traje masculino de dormir. Isso significa que podemos imaginar os grandes machões do começo do século 20 enfiando uma camisola pela cabeça antes de ir para o berço. Alguns:
O marechal Floriano Peixoto, que, tanto no Exército quanto na Presidência, teria suas camisolas penduradas ao lado das fardas. O minúsculo Rui Barbosa, que devia guardar as suas na gaveta de lenços. Luiz Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança", cuja barba preta às vezes se enfiava na gola da camisola. Friedenreich, primeiro ídolo do nosso futebol. O dito Washington Luiz, famoso pela frase "Comigo é na madeira!", para se jactar de suas façanhas. Seu afilhado de casamento Oswald de Andrade. O feroz Lampião, ao lado de Maria Bonita, ao pé do mandacaru. Getúlio Vargas, depois de tirar as bombachas.
Todos dormiam de camisola. Que lhes ficava muito bem sobre as cuecas brancas e meias pretas.