Assim como Diógenes procurava pelas ruas de Atenas, de lanterna acesa na mão, “um homem honesto”, procura-se um candidato que seja não apenas honesto, mas capaz de mobilizar os eleitores que recusam mais uma vez a polarização entre Bolsonaro e Lula. A desistência de Luciano Huck e João Amoêdo de se candidatar à Presidência da República, além da prévia interna do PSDB para tentar unificar suas tendências em torno de um nome, colocou para andar a sucessão presidencial, que já tem três candidatos definidos: Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes.
Provavelmente, Doria vencerá a prévia do PSDB, mas não tem o apoio total do próprio partido. Terá de se mostrar como o candidato de São Paulo, o que lhe daria grande vantagem, pois geralmente os candidatos tucanos têm saído do estado com uma grande diferença de votos, de cerca de 5 milhões de votos para Fernando Henrique, até 7 milhões a favor de Aécio Neves.
Luciano Huck era o único candidato a candidato que já tinha a popularidade formada. Ao se lançar com projetos — e ele os tem, pois se prepara há anos para se candidatar —, seria um bom nome. A terceira via perdeu um candidato com conteúdo. Dos que restam na mesa de negociação, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta é o que tem maior potencial de crescimento, caso o DEM não se entregue ao bolsonarismo.
Ciro tem a seu favor a experiência política, foi tudo na vida: deputado federal, senador, governador, ministro e candidato à Presidência três vezes. Na eleição de 2018, tentou ser o candidato de centro em meio à campanha e não conseguiu êxito. Se Lula pôde convencer a todos em 2002 de que era “paz e amor”, sob a batuta de Duda Mendonça, o trabalho de João Santana será mais árduo, não apenas porque o truque de seu mentor publicitário acabou revelado, como também seu envolvimento nos esquemas de corrupção petista afetam a credibilidade de seu trabalho.
O ex-deputado federal Miro Teixeira, que trabalha na coordenação de sua campanha, diz que Ciro é uma espécie de JK atualizado, devido ao projeto desenvolvimentista já divulgado até em livro. Terá de mostrar um espírito conciliador para tornar-se palatável não apenas aos demais partidos que ontem estiveram representados num almoço para as primeiras conversas sobre o candidato de consenso da terceira via. Também terá de convencer o eleitorado de que é a alternativa viável, sem ser uma versão extremada da esquerda.
A presença de ACM Neto, presidente do DEM, na reunião de ontem com os demais partidos que buscam uma saída contra a polarização é bom sinal. Mandetta, no mínimo, é um excelente candidato a vice muma chapa alternativa, tanto de Doria quanto de Ciro, que se empenha mais uma vez em tornar-se o candidato viável contra a polarização, mas para isso terá de demonstrar com atos que amadureceu sua visão política e sua retórica, marcada pela virulência.
Será difícil aparecer um candidato com capacidade de mobilizar o eleitorado, que sem dúvida está à procura de um nome, mas é muito disperso em seu perfil. Há os que são liberal-conservadores e não querem ver um candidato ligado à esquerda no tal “polo democrático”. Há os de centro-direita arrependidos de ter escolhido Bolsonaro, mas que continuarão votando nele se não aparecer alternativa viável. Para derrotar Lula, pois o antipetismo continua fortemente enraizado em parte do eleitorado.
Há os que querem um candidato mais à esquerda, mas não ligado a denúncias de corrupção. Existe a necessidade de terceira via, mas não um candidato que represente essa ânsia de um grupo grande e disperso de eleitores. Ser contra Lula e Bolsonaro é condição necessária, mas não suficiente, para preencher essa vaga. Talvez Mandetta seja o mais próximo disso. Talvez a polarização entre Lula e Bolsonaro ajude o surgimento de uma terceira via, pois quem não tem opção terá de criar uma. Não só os eleitores, mas também os políticos, e então se poderia buscar consenso em torno de um nome alternativo. Pode ser uma chance de união de grupos de centro, centro-direita e centro-esquerda em torno de um nome.