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De Fidel Castro

 

Assisti na legendária Catedral de Notre Dame, em Paris, às exéquias de François Mitterand. Todos os chefes de Estado, de governo ou presidentes de Senado ou Câmara, do mundo inteiro, estavam presentes na formidável nave, homenagem de pedra e arte à Notre Dame, mãe de Deus.


A televisão transmitia ao vivo a celebração, o esplêndido e incomparavelmente belo rito litúrgico da Santa Madre Igreja a um grande homem. Circulando pela nave, a câmera focalizava os presentes e insistentemente focalizava Fidel Castro, o mais colhido por ela. Como se vê, o líder máximo mantém intacto o seu carisma.


Ainda agora vejo confirmado esse dom de sua personalidade, na visita que lhe fez o presidente Evo Morales, eleito para governar a Bolívia. Nos tempos da realeza dizia-se que foi pagar tributo de vassalagem.


Lembremos que um companheiro romântico de Fidel Castro, Che Guevara, queria fazer da Bolívia a Sierra Maestra da América do Sul e que foi este gesto abnegado que levou-o à morte numa emboscada. Mas uma guerrilha como a vitoriosa em Cuba já não daria resultado, pois os tempos são outros. Direi que é tarde, muito tarde, como exclamou em um sermão famoso o frei brasileiro Mont’Alverne.


Fidel Castro já não é o mesmo, é um homem doente, vencido pela realidade das imposições sociais e econômicas do mundo moderno e, portanto, sem forças para aventuras ousadas como seria a que tentasse executar. No entanto, lembremos que, além de Evo Morales, Fidel Castro pode contar com os amigos Lula e Chávez, da Venezuela, e, provavelmente com o presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez.


Reconheçamos que Fidel Castro conserva, ainda que abalado, o prestígio mundial de revolucionário heróico, que, paradoxalmente, empobreceu Cuba e o povo cubano.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 6/1/2006