O candidato tucano Aécio Neves entra na última semana da campanha eleitoral enfrentando um dilema que coloca suas necessidades imediatas à frente de um projeto político maior, o de tirar o PT do poder. Ele foi talvez a maior vítima colateral do trágico acidente que matou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, colocando de cabeça para baixo a corrida pela presidência da República e desconstruindo os parâmetros de sua disputa.
Guiado por Aécio, seu presidente nacional, o PSDB armou-se para disputar a presidência baseado na sua organização partidária, em diversos acordos políticos formais e informais e na possibilidade de sair com grandes votações de Minas e São Paulo, dois dos maiores colégios eleitorais do país que domina há muito tempo.
Isso tudo deixou de ter importância quando a ex-senadora Marina Silva entrou em cena e conseguiu, com quase nenhuma estrutura partidária e pouco mais de dois minutos de propaganda eleitoral no rádio e televisão, sair na frente em todas as regiões do país, jogando Aécio para o terceiro lugar.
Diante do fato novo, a campanha do PSDB, mas, sobretudo, a da presidente Dilma, partiram para a desconstrução do programa e da própria figura de Marina, que se mostrou frágil, tanto pessoal quanto partidariamente, para reagir à altura da necessidade. Ela no momento enfrenta três fortes adversários: a falta de escrúpulos da propaganda do PT, a tentativa dramática do PSDB de retomar o lugar na disputa no segundo turno, e a crise aberta no PSB por seu presidente interino Roberto Amaral, velho aliado do PT que, em meio a uma campanha acirrada como essa, resolveu cuidar de seu pirão primeiro, convocando uma extemporânea eleição para formalizá-lo na presidência do partido.
Querendo ou não, os dois, Aécio Neves e Roberto Amaral, estão ajudando o PT a fortalecer a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Mais compreensível do que a atitude de Amaral é a de Aécio, que vê ainda uma possibilidade de superar Marina pelas últimas pesquisas, embora tenha sido aconselhado já há algum tempo pelo ex-presidente Fernando Henrique a centrar seu ataque em Dilma, e não em Marina, a fim de preservar a possibilidade de montar um acordo partidário entre PSB e PSDB no segundo turno.
O auge das “afinidades” entre as campanhas de Aécio e Dilma foi a acusação irônica de que o programa de Marina havia sido escrito a lápis, tais foram as alterações feitas. O marqueteiro João Santana gostou tanto da frase de Aécio que a transformou em um filmete da campanha de Dilma.
Outra boa sacada de Aécio acabou saindo pela culatra, pois Aécio disse de suas adversárias que “uma mente e a outra desmente”. Acabou tendo que se desmentir ele próprio, que prometeu e depois voltou atrás no fim do fator previdenciário.
O maior problema de Aécio Neves, a esta altura da eleição, é a disputa em Minas, que surpreendentemente está perdendo. Os 3 milhões de votos que pretendia tirar na frente de Dilma no estado dos dois agora se tornaram poucos milhares numa disputa em que tem que se desdobrar para chegar à frente, quando já esteve em terceiro lugar.
Como o número de indecisos continua alto, em torno de 20%, Aécio e seu grupo ainda têm esperanças de virar o jogo, mesmo que seja apenas no segundo turno. Mas se esse esforço excessivo, em Minas e no plano nacional, levá-lo ao segundo turno, ele pode até ganhar o governo de Minas para seu partido, mas dificilmente terá condições de derrotar a presidente Dilma.
No norte e no nordeste, regiões em que Dilma abriu na eleição de 2010 cerca de 12 milhões de votos de frente para Serra, o PSDB hoje com Aécio tem uma votação minúscula: 15% no norte e 8% no nordeste segundo o mais recente levantamento do Datafolha.
Quem está impedindo, a duras penas, que Dilma abra vantagem nessas regiões onde predominam os eleitores mais ajudados pelos programas sociais do governo, especialmente o Bolsa Família, é Marina, que tem, 27% de votos no norte e 23% no nordeste, e mesmo assim está em queda.
Entre os eleitores de renda familiar de 2 a 5 salários mínimos, Dilma e Marina estavam empatadas em 34% há uma semana. Agora, a presidente supera a candidata do PSB por 37% a 30%. No Nordeste, Dilma já chegou a 55% e vai a 59% na disputa com Marina, que teria 33% num eventual segundo turno.
Contra Aécio Neves, tudo indica que a presidente poderá repetir os 70% que obteve em 2010 nessas regiões, e o candidato do PSDB não tem condições práticas de reduzir essa diferença com votações expressivas em Minas e São Paulo, como era o plano inicial.