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Davos e a alternativa brasileira

 

A reunião de Davos acelerou a marca de liderança internacional brasileira no Continente. E já como terceira via, entre o extremismo primário de Chávez e agora o fechamento - para que não haja dúvidas - de Calderón, do México, no caminho do capitalismo liberal. Lula foi nítido em insistir na marca do desenvolvimento com democracia e ninguém lhe leva palma hoje no Continente no respaldo ao "Estado de Direito".


O mais importante, entretanto, é que a esta nova prosperidade se soma a definição clara de um papel crescente do Estado - ao contrário das carpideiras privatistas - na condução da mudança e da redistribuição de renda do país. E aí está, no PAC, a abertura clara da poupança previdenciária aos investimentos de infra-estrutura, saindo do pântano financeiro e do tango da aplicação improdutiva. O PAC, aliás, mal começa a se desenhar como este projeto de mudança fora do nouveau-richismo ideológico petista e de fato saindo também da ortodoxia neoliberal, no assumir frontalmente o encargo direito do poder público frente à miséria e à marginalidade.


Tornou-se clara a declaração de Lula em Davos de que não há contrapartida dos beneficiários na previdência rural hoje e, sobretudo, na imediata ampliação do plano direto do apoio ao carente extremo e ao idoso. As heterodoxias aí estão definindo o nosso perfil de mudança que desbarata também a permanência empedernida do ciclo da privatização da virada do século em todo o continente.


A marca presidencial de Lula manifestou-se na defesa da nacionalização do petróleo boliviano, abrindo caminho também para os novos lances de Correa, no Equador. E é diante de regime de empresas públicas dos setores macroeconômicos da América Latina que Lula vê a nova coexistência das Petrobrás com seu vizinho andino.


O Brasil quebra hoje o triângulo eqüilátero com que a globalização assentava o reenvio entre desenvolvimento, democracia e privatização. O país descarta este último vértice, com a decidida intervenção do Estado, no que esperam as populações marginalizadas e responsáveis pela maciça reeleição de Lula. O vigor do situacionismo brasileiro de hoje não quer ter o luxo de rótulos, mas sabe como abriu a cunha na diferença de nosso futuro. E o fará por esta prática da alternativa sem retórica, no momento em que se esgotam os próprios fóruns mundiais, e Nairóbi reconhece de como o movimento morre à mingua de novos cenários, e hibernará nas catacumbas de mini-grupos no ano que vem.


Por outro lado, a grita contra o PAC arrefeceu a sua retórica fácil, e aponta Dilma Roussef como arquiteta de uma realpolitik da mudança na definitiva reconquista do papel do poder público no segundo mandato de Lula. A futura Davos já sabe tudo que se espera do bufonismo chavista. Mas apenas começa o jogo inovador de riscos calculados, do Brasil das PPPs, da poupança social produtiva e da iminente explosão do emprego urbano.


Jornal do Commercio (RJ) 2/2/2007