Antes de João de Deus, tivemos Zé Arigó, Chico Xavier, Dr. Fritz (através de várias encarnações brasileiras) e, se os médiuns, curandeiros, paranormais, videntes e gurus nativos não bastassem, havia os de fora.
Em 1976, o Brasil praticamente parou para ver o israelense Uri Geller em dois especiais ao vivo na Globo com 90% de audiência. Ele veio participar do 1° Congresso de Parapsicologia e Psicotrônica cercado pela fama de ter se apresentado em tevês de vários países, conseguindo só com o poder da mente, à distância, entortar garfos e colheres, e consertar relógios e aparelhos domésticos.
De todos esses médiuns e paranormais, João de Deus talvez tenha sido o mais popular entre as celebridades, o de maior prestígio, o que despertou mais crença e, em seguida, descrença. Desde o programa “Conversa Com Bial”, o primeiro a denunciar com testemunhas as violências sexuais que ele praticava, até o último dia 20, quando, já preso, foi indiciado por “violência sexual mediante fraude”, o Ministério Público de Goiás recebeu mais de 500 relatos de abusos (dessa relação não consta a acusação da própria filha, Dalva, que diz ter sido violentada durante vários anos da infância).
Celebridades como a apresentadora americana Oprah Winfrey, Xuxa, Camila Pitanga, Bárbara Paz, Alessandra Maestrini foram algumas das que tiveram a coragem de se arrepender do apoio que deram.
Com todo respeito, que me desculpem os que continuam acreditando em João de Deus e são gratos por terem obtido apoio e até cura espiritual, mas o indivíduo João Teixeira de Faria, 76 anos, pai de onze filhos de nove mulheres, nenhum da atual, merece ser investigado e punido pelos seus malfeitos, como qualquer cidadão. Ele disse uma vez que gosta de igualdade: “Trato o Lula, o Paulo Skaf e o Nizan Guanaes da mesma forma”.
Noves fora os abusos sexuais, os R$ 35 milhões que ele retirou da conta após ser denunciado, além dos R$ 400 mil e armas que a polícia encontrou em sua casa, já são suficientes para uma respeitável suspeita de má-fé.