Se de fato rebaixar o Ministério da Cultura a uma secretaria, como prometeu, o presidente eleito estará dando um passo atrás no momento em que estudos demonstram a amplitude e pujança do setor em todo o mundo. Pesquisas informam que as receitas das chamadas indústrias culturais e criativas geram mais de US$ 2 trilhões por ano, superando as de telecomunicações, o que representa 3% do PIB mundial. Em termos de empregos, são quase 30 milhões, mais do que a indústria automotiva de Europa, Japão e EUA juntos.
O setor é dividido em quatro áreas: consumo (design, arquitetura, moda e publicidade), mídias (editorial e audiovisual), cultura (patrimônio e artes, música, artes cênicas e expressões culturais) e tecnologias de informação e comunicação.
Entre os países emergentes, o Brasil é considerado um dos maiores mercados para a economia criativa. Dados do BNDES apontam que, em 2015, o setor cultural movimentou no país R$ 155 bilhões, ou 2,64% do PIB, gerando cerca de 850 mil empregos. Para os próximos anos, a estimativa é de crescimento acima da média mundial até 2021 — de 4,6%, enquanto o mundo deve crescer 4,2%, segundo estudo da consultoria PwC. O levantamento leva em conta segmentos como mídia e entretenimento, listando desde atividades tradicionais (televisão, cinema e música), até as de última geração, como os jogos eletrônicos.
Segundo a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o avanço da economia criativa chegou a 69,8% entre 2003 e 2013, acima dos 36,4% de aumento do PIB nacional no mesmo período.
Apesar dessa vitalidade, a grande atriz Marieta Severo lamenta que haja o que chama de “demonização da classe artística”. “A ideia de ver artistas se tornando vilões do país sob a perspectiva de parte da sociedade é muito dolorosa para a gente”.
Cacá Diegues chama atenção para a importância da dimensão econômica: “a cultura deixou de ser um fenômeno apenas simbólico de afirmação de nossa identidade, para se tornar também um negócio em benefício da população” — um bom negócio, aliás.