Coube ao vice-presidente Hamilton Mourão arranjar uma desculpa para justificar o escandaloso namoro de Bolsonaro com os partidos do centrão (PP, PL, PSD, Republicanos), em suma, com todos aqueles que ele dizia abominar por pertencerem à “velha política”, fisiológica, do tudo por um cargo. Como pregava na campanha eleitoral, ele era a “nova política”, que vinha para mudar o que estava aí. Como explicar que, de um dia para o outro, ele transformasse em amigos de infância e conselheiros personagens como Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Arthur Lira, Roberto Jefferson (PTB). Este, aliás, para não haver duvida, já avisou: “Se ele oferecer cargos, aceito.”
Em entrevista nas redes sociais, Mourão atribuiu à crise da Covid-19 a causa que levou o presidente a se aproximar do centrão. A estratégia seria formar um grupo de apoiadores por meio de “convergência de ideias”. O vice-presidente acha que isso funcionou até a chegada do novo coronavírus ao país, quando então o presidente da República teve que buscar outra forma de diálogo como outros presidentes tiveram que fazer.
A versão do vice tem a seguinte vantagem: se alguém rir quando o presidente culpar a pandemia, ele dirá: “quem inventou isso foi o Mourão”. Que, como se sabe, tem mais credibilidade do que seu superior.
Quem te viu, quem te vê. Vocês devem se lembrar daquela imagem do Ministério quase completo funcionando como claque do pronunciamento do presidente Bolsonaro na sexta-feira passada. O ministro Paulo Guedes era, entre os cerca de 20 ministros, o único com máscara, sem paletó e sem sapato social. No meu tempo, isso seria recebido como protesto. Ou pelo menos como posição dissonante.
Agora compare com a foto de ontem: ele está elegante, com bela gravata azul, ao lado do presidente e debaixo da manchete: “O homem que decide economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes, diz Bolsonaro.” Já tinha deixado de lado o figurino rebelde.