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A crise política

 

Estou incidindo no lugar comum, fato que não recomenda, não direi o jornalista, mas o acadêmico. Não há nada mais desabonador de um acadêmico do que usar e repetir lugares comuns, mas no jornalismo nem sempre é possível fugir deles, pois que estão ao alcance de qualquer comentarista e servem para denunciar momentos de faltas graves na condução dos negócios do Estado ou simplesmente negócios públicos, desses que tomam algum tempo dos responsáveis pela administração.


A crise política, em cujas tenazes se debate o PT, o partido que prometeu mundos e fundos para o país e, por isso, mereceu um crédito de confiança do eleitorado, vale dizer, do povo representado, essa crise política já vem se arrastando desde antes da posse do presidente Lula em seu cargo de chefe máximo da nação. Era elementar presumir-se que o presidente Lula não daria conta do recado, no exercício da presidência, mas não tanto quanto estamos assinalando todos os dias.


O PT malogrou desde o primeiro dia de governo, como havia malogrado antes, mesmo, desse início, na formação do Ministério, o maior do mundo e, em grande parte inútil, sem saber o que fazer, para justificar a posição conquistada e os salários mensais a receber. Mas, com o passar do tempo, a crise vai se avolumando e o presidente Lula está dando o exemplo de que não se capacitou durante sua vida pública e sindicalizada para ocupar o cargo que ocupa.


Dir-se-á que o mal está feito. Como sou e os brasileiros também são, depois de tantas experiências frustradas, inimigos de revoluções, temos de suportar o presidente Lula com suas deficiências, suas arengas verbais, quando fala sem ler, suas leituras mal preparadas antes de fazê-las, sobre os problemas da nação. É um lamentável malogro do presidente, pois ele mereceu a confiança de milhões de brasileiros, que supunham poder contar com um operário na presidência, e com o seu sucesso.


Vemos que tudo deu em águas de barrela, como se dizia em outros tempos. A crise política continua e, pelo visto, como o presidente, a rigor, não sabe o que fazer com seu cargo e a tremenda responsabilidade que nele se contém, os nós que se dão na administração do país e no governo, em geral, vão agravando a situação do país, com reflexos dolorosos sobre o Brasil pobre, que é de mais de 70%, pobre e sem esperança de melhorar. É onde estamos. Queira Deus que aí não fiquemos.


 


Diário do Comércio (São Paulo - SP) em 24/03/2004

Diário do Comércio (São Paulo - SP) em, 24/03/2004