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A crise da crise

 

Poucas vezes na história republicana do Brasil tivemos uma sucessão presidencial que tinha tudo para ser tranquila.
 
Tirante o período das sucessões da ditadura, sempre havia problemas, alguns sérios, outros seríssimos, na acomodação da máquina política e administrativa da nação.

A transição de Lula para Dilma tinha tudo para ser um mar de rosas, uma idade de ouro digna de ser cantada por um Ovídio disponível. Não tem sido assim, apesar do pouco tempo para uma avaliação mais conscienciosa.

No entanto os movimentos de acomodação no terreno, não se sabe ainda bem por culpa de quem, estão subindo na escala Richter dos terremotos.

Até agora, felizmente, nada de irreparável na condução de uma política que vinha apresentando ótimos resultados na era Lula. Esperava-se a continuação, mas alguma coisa não está funcionando.

Basta lembrar as recentes substituições de ministros e administradores importantes, escândalos possíveis ou prováveis, dando a impressão de que a equipe formada por Dilma sob a supervisão ou autorização de Lula é um saco de gatos.

Causa pasmo que Nelson Jobim, com seu passado de membro do Supremo Tribunal Federal, saindo-se bem na difícil pasta da Defesa, conseguindo administrar até agora os problemas latentes ou inesperados entre as Forças Armadas, por desnecessária incontinência verbal, tenha criado uma situação, mais pessoal do que política, para esse início de governo.

No fundo, nada de sério, de substancial, mas revelador de que as manobras internas do atual governo, com tantos e tamanhos desafios a enfrentar, estejam se desgastando por suspeita de que outros casos poderão vir -e mais graves.

Cedo demais para uma crise sem gravidade, contudo perfeitamente dispensável.

Folha de São Paulo, 7/8/2011