A fome e o apetite pelo poder não são novidade. Simultaneamente trágico e ridículo, sempre foi assim. Suetônio, em "A Vida dos doze Césares", é ao mesmo tempo biógrafo da Roma imperial e das misérias da luta pelo poder.
Ao longo da história, com raras exceções, os exemplos são suculentos e até monótonos. No tempo dos Césares o problema era mais simples e rápido. O sucessor matava o antecessor, às vezes com o auxílio da própria mãe que desejava para seu filho não apenas o poder, mas a glória de dominar o mundo.
No Brasil, não sei se para melhor ou pior, ainda não atingimos essa perfeição que no fundo é mais barata, profilática e rápida. Nos últimos meses, e até pelo menos dois anos, a sucessão costuma provocar uma guerra civil em escala menos sangrenta. É de admirar que só tivemos um impeachment e a ameaça de outro que deverá se consumar neste domingo.
Golpes tivemos muitos e inexoravelmente teremos outros. O Brasil é useiro e vezeiro em repetir seus erros em quase todos os departamentos da administração pública. No caso de agora, escrevendo esta crônica dois dias antes da onça beber água, recuso-me a dar qualquer tipo de previsão. Não estou interessado "em mudar para continuar o mesmo" - recentemente lembrei esta frase de Tomasi di Lampedusa ("Il gattopardo").
Pessoalmente, lamento a situação a que chegamos. No caso de Collor o motivo foi a corrupção. No caso de Jango foi a deposição por motivos ideológicos em plena Guerra Fria, não foi um impedimento, mas um golpe de militares que estavam mergulhados na paranoia do anticomunismo.
O impeachment que hoje será decidido terá como base um crime de responsabilidade e uma sucessão de escândalos que nunca houve antes neste país. Na verdade, se for deposto, será pela incompetência.