Entre as muitas vantagens da Operação Lava Jato destaca-se a revelação, em tintas fortes, da evolução do esquema de corrupção montado na política nacional, que atingiu o seu ápice nos anos petistas. Para se ter uma ideia do que estamos falando, basta constatar que todos, simplesmente todos os ministros que ocuparam o Gabinete Civil nas gestões Lula e Dilma são alvos de graves acusações de corrupção.
A relação tem nomes ilustres: José Dirceu, na cadeia, duplamente envolvido no mensalão e no petrolão, Dilma Rousseff, também respondendo a impeachment, Erenice Guerra, Antonio Palocci, senadora Gleisi Hoffman, Aloisio Mercadante, Jaques Wagner e Lula, aquele que foi sem nunca ter sido.
Alguma coisa essa lista impressionante quer dizer, e à medida que as investigações prosseguem e as delações premiadas vão sendo reveladas – e ainda não foram oficializadas as das empreiteiras OAS e Odebrecht – vai-se entendendo melhor o que aconteceu na política brasileira desde a redemocratização.
É verdade que a corrupção é suprapartidária e atinge a todos indiscriminadamente. Nem mesmo os filhotes de um PT imaculado que só existiu na imaginação utópica de uns poucos ingênuos escapam de casos, até aqui pontuais.
Volta meia surgem nas delações premiadas denúncias de muitos anos atrás, como agora a que envolve o PSDB. Pelo relato de Sérgio Machado, àquela altura tucano, armou-se um fundo, em parte com dinheiro de caixa 2 vindo de Furnas e outras empresas privadas, para ajudar na eleição de uma bancada forte do partido na Câmara em 1998.
O objetivo final era eleger Aécio Neves presidente da Câmara, o que realmente aconteceu. Essas reminiscências de Machado, portanto, são anteriores aos esquemas montados pelo PT. O hoje presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, nega que isso tenha acontecido, e as investigações darão a palavra final. Mas o episódio, se real, serve para demonstrar a mudança de paradigma acontecida na transição do governo tucano para os petistas.
A história registra que o então presidente Fernando Henrique Cardoso foi apanhado de surpresa com a comunicação de Aécio de que seria candidato à presidência da Câmara, quebrando a combinação de fazer Inocêncio de Oliveira, do PFL na sucessão de Michel Temer. Atribui-se a essa manobra, inclusive, um racha na aliança governista, já abalada pelos problemas econômicos, que facilitou a vitória do PT em 2002.
O PT tem razão, não inventou a corrupção. Delcídio e Sérgio Machado foram tucanos antes de entrarem no PT e PMDB, e nada indica que tenham mudado o comportamento na atuação política pela simples mudança de legenda. Mas a narrativa que está sendo montada em Curitiba mostra que a chegada do PT ao poder institucionalizou a corrupção, potencializando-a.
Os partidos aliados, espalhados pela máquina estatal em organizada distribuição de cargos e benesses dirigida pelo Palácio do Planalto, passaram a ter fontes inesgotáveis de financiamento político e pessoal, com mesadas de R$ 200, 300 mil, e grandes tacadas em obras públicas que deram ao PMDB, por exemplo, R$ 100 milhões somente da Transpetro.
Não há mais dúvida de que o financiamento privado de campanhas eleitorais, cada vez mais caras, gerou essa atuação política viciada. Mas é preciso separar o que é Caixa 2 do que é puro e simples roubo de empresas estatais. Como definiu magnificamente o ex-ministro do STF Ayres Britto, no comando do julgamento do mensalão, não há Caixa 2 com dinheiro público. O que há é crime de peculato. Pois o PT elevou o peculato ao estado da arte a partir da experiência do PSDB mineiro na campanha para governador de Eduardo Azeredo.
De um esquema restrito à campanha eleitoral, o PT utilizou a experiência do lobista Marcos Valério como política de Estado, para forrar suas burras e a dos seus aliados e apaniguados, em busca do poder permanente. Agora estão todos juntos e misturados, mas é preciso separar as ações para que a culpa da degenerescência institucional não se perca nessa geleia geral que envolve a todos.
E, sobretudo, é urgente uma reforma político-partidária baseada nos novos critérios que estão sendo implantados a ferro e fogo a partir do novo protagonismo do Judiciário e das exigências da sociedade.