Nelson Jobim garantiu que foi técnica a sua decisão sobre a quebra do sigilo de um cidadão que teria emprestado dinheiro (pouco é verdade) ao cidadão Luiz Ignácio Lula da Silva, atual presidente da República e candidato à Presidência da mesmíssima República na próxima eleição presidencial.
Tudo bem, nos conformes da Justiça e da moral. Um juiz julga de acordo com a sua formação jurídica. No caso de um ministro do Supremo Tribunal Federal, julga em instância suprema, definitiva, sem direito a qualquer apelação.
Evidente que a sua decisão provocou uma onda de críticas generalizadas e até de suspeitas, que, pessoalmente, acho despropositadas. Não tenho (e pouca gente tem) equipamento técnico para julgar aquilo que juízes e advogados costumam chamar de "feito". Dou de barato que a sua decisão foi tecnicamente correta e justa.
Mas não acho correta a sua reclamação de que estaria sendo "patrulhado". Pelo fato de não estar agradando a consideráveis parcelas da nação, não significa que seja vítima de qualquer tipo de perseguição ou preconceito.
Além da toga a que tem direito, pelo menos até a data de sua renúncia ou aposentadoria, ele está colocando na cabeça, de moto próprio, a coroa do martírio. Também de moto próprio (talvez o ministro nem tenha moto, dessas usadas pelos entregadores de pizza), ele se declara e funciona como pré-candidato na sucessão de Lula, direito que também lhe assiste, como a qualquer cidadão em gozo de seus direitos políticos.
Tem serviços prestados não apenas à nação, mas, especificamente, a partidos, de um dos quais foi indicado para o Supremo. Não há qualquer patrulhamento em salientar ou criticar a sua posição, tomada um pouco antecipadamente. Damos de barato que seja um bom nome para ser levado em consideração pela classe política e, posteriormente, pelo eleitorado.
Dizem que quem come depressa come cru. Nem mesmo uma pizza se come crua.
Folha de São Paulo (São Paulo) 5/2/2006