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A construção do mito

 

Quando um parente de John F. Kennedy morreu num acidente aéreo, o cronista José Carlos de Oliveira, o mais lido de seu tempo, escreveu: "Somos uma geração condenada a nos preocupar com a família Kennedy". Pouco depois (ou pouco antes), o mundo se espantou com o casamento da viúva Jacqueline Kennedy que dava direito a Aristóteles Onassis de dormir com ela quatro vezes por ano.

Aliás, quando ainda estava casada com Kennedy, ela foi apresentada a Charles de Gaulle. Quiseram saber a opinião do presidente francês sobre a primeira-dama dos EUA. O grande Charles foi sincero: "Ela é do tipo que ainda vai casar com um armador grego".

A mídia está comemorando os 50 anos da morte de JFK. Apesar das muitas pesquisas, inquéritos e palpites, ainda não foi afastada a possibilidade de uma conspiração, atribuindo à Máfia, a Fidel Castro e à finada União Soviética o atentado de Dallas, que deu ao presidente norte-americano um texto final de herói ou de mártir. A construção do mito kennedyano, se teve justificativa no caso da corrida espacial, colocando o homem na Lua, teve contrapartidas ao longo de seu mandato, a começar pelo episódio da baía dos Porcos, quando planejou e financiou uma invasão de mercenários a Cuba. E, em plena Guerra Fria, ficou com a glória de ter evitado um conflito nuclear ao reagir com altivez aos mísseis que os soviéticos estavam instalando a um tiro de espingarda de rolha do território dos EUA.

A história do episódio que, de fato, colocou o mundo à beira de sua destruição dá crédito total a Kennedy, que reagiu heroicamente àquele momento da verdade de 1962. Mas a verdade é que a solução da crise deveu-se também a Khruschov, que impôs como condição para retirar seu arsenal atômico de Cuba a retirada dos mísseis americanos da Turquia, que estavam apontados para Moscou.

Folha de S. Paulo (RJ), 24/11/2013

Folha de S. Paulo (RJ), 24/11/2013