De repente, apesar da fama de machão ou de machista, o Brasil se descobre governado por mulheres. Na chamada República Velha, até 1930, uma situação como a de agora era impensável, seria até mesmo um escândalo, comprovada ficava a falência masculina para nos guiar e reger.
Outro escândalo que abalou nossos alicerces foi a declaração de um candidato presidencial que prometia ser um gerente do Brasil, uma vez que nosso problema era de gestão e não de política: Adhemar de Barros nunca chegou lá.
Tudo tem sua hora e vez. Dona Dilma (eleita) e dona Gleisi (nomeada) fazem questão de acentuar que não chegam a ser políticas, mas gestoras. E, como gestoras, elas transferem a articulação política para outra dama que, estranhamente, até a véspera, fazia a gestão de pescados e não exatamente da política dos pescados.
Sempre admirei a rapidez com que uma autoridade em ferrovias, com uma penada no "Diário Oficial", passe a ser especialista em recursos hídricos (não sei se ainda existe tal ministério, mas entre os quase quarenta que agora temos, é possível que ainda exista).
Nada contra a competência das três novas mandatárias, Dilma, Gleisi e Ideli. Pessoalmente, tenho respeito e admiração por elas. E como todos os brasileiros, mesmo os que não gostam do PT, torço para que tudo dê certo.
Mas, como lembrei em crônica da semana passada, o caso do velhinho do Iseb que, após erudita noitada de debates sobre os rumos da nacionalidade, declarou que tudo estava confuso, eu também temo que não dê certo.
Não por culpa das "três mulheres do sabonete Araxá", que rendeu a Manuel Bandeira um dos seus melhores poemas, mas por aquilo que o finado Jânio Quadros chamava de "apetites". Com tanta gestão é possível que aconteça uma congestão republicana.
Folha de São Paulo, 14/6/2011