Foi sobre a América Latina o meu primeiro livro, lançado pela saudosa Companhia Editora Nacional de Octalles Marcondes. Para surpresa minha, os exemplares impressos pela editora se esgotaram em pouco tempo. Restaram para meu arquivo alguns exemplares, um dos quais, o que sobrou, está em minha biblioteca. Foi uma estréia sobre assunto que há muito me preocupava, que era a América Latina, um imenso território, com numerosas repúblicas, todas mais ou menos em decadência ou com problemas.
Destacavam-se na América Latina o México, próximo dos Estados Unidos, o que é uma vantagem ainda hoje, o Brasil, com seu imenso território e zonas dele abandonadas depois de um século, ainda que o flagelo das secas seja notório e enxote as populações para os centros urbanos, sobretudo os do sul, no sul a Argentina, nação de excelente qualidade de vida, com cidades magnificas e estrutura cultural incomparável com os demais países.
Defendia a tese, a qual não mudei até hoje, que o liberalismo dificilmente se consolidaria no continente, e atribuía eu essa tese a formação autoritária das nações, inclusive uma pequenina, a Costa Rica, onde a sombra de um ditador acompanha sua história. O Brasil tem liberais, mas isolados ou unidos em grupos de estudo, mas está longe de uma organização liberal, como a devemos entender. Os demais países estão com as mesmas condições, sem esperança de mudar como ocorreu até hoje.
Quando, pois, tomo conhecimento da tentativa de se juntar as nações numa comunidade sul-americana vejo-me diante de um sonho ou uma utopia, fato que se confirma agora com a disputa entre a Argentina e o Brasil. Voltamos à Questão do Prata. Já lutaram juntas as duas nações, mas, quando vem a paz as duas não se entendem, embora tenha procurado se entender com o Mercosul. É essa minha opinião sobre a Comunidade desejada. Dificilmente se entenderão as nações.
Diário do Comércio (São Paulo) 17/12/2004