Serão quatro semanas decisivas para os próximos quatro anos de uma cidade cujos problemas dois Marcelos dirão como pretendem resolver, um pela direita e o outro pela esquerda. Mas como não se governa com bandeiras — nem evangélica nem ideológica — e sim com programas, o novo prefeito terá que ter a humildade e a competência administrativa de um síndico, não a retórica de um parlamentar. Crivella, com 27,7%, e Freixo, com 18,2%, devem estar cheios de si com a vitória que obtiveram sobre nove adversários cada um. Só que a soma de seus votos por pouco não é suplantada pelos não votos, ou seja, por 42,4% dos eleitores que não votaram ou votaram em branco e nulo. Como reverter isso?
Entre os dois há em comum a declarada recusa ao PMDB, pelo menos por enquanto, já que o eleito terá que se relacionar com o presidente e com o governador, ambos do partido. No discurso da vitória, Freixo chegou a classificar a agremiação de “golpista”. Mas não sei se muitos dos que votaram nele não teriam preferido ouvi-lo falar do seu plano de governo, em vez de ficar repetindo que é contra o “golpe” e que sua vitória é “representativa” de sua posição. Será? Como se explica então o desempenho de Crivella, que foi ministro de Dilma e votou a favor do impeachment? E o que isso tem a ver com o Rio? Não será recorrendo ao evangelho ou ao “Fora Temer” que resolverão nossas mazelas.
É verdade que já no dia seguinte eles amanheceram mais realistas e voltados para o campo da centro-direita. Crivella, mesmo mantendo “imensas restrições” às lideranças do PMDB, vai procurar vereadores do partido como Rosa Fernandes e Jairinho. E, claro, pretende conquistar os eleitores de Osorio, Indio e Bolsonaro, que ele acredita terem mais afinidade com suas ideias. Freixo, por sua vez, mostrou-se disposto a conversar com o candidato do PSDB, Carlos Osorio, e com Indio, do PSD. “Segundo turno não é alianças”, disse, “é apoio”. Ele acredita que pode conquistar até parte dos votos de Flávio Bolsonaro, que se situa no lado oposto. O candidato da esquerda acha que há um voto do candidato mais à direita “também ético, não só ideológico”. Além disso, os dois Marcelos vão tentar reciclar aspectos negativos de suas imagens — Crivella, descolando-a da igreja do bispo Macedo; e Freixo, de um certo anarquismo black bloc.
Em suma, vai ser uma campanha polarizada e cheia de contradições, e uma “nova eleição”, como se diz do segundo turno. As estratégias serão diferentes, mas o alvo é o mesmo: 2,4 milhões de eleitores, dos quais mais de 1 milhão não compareceram às urnas ou desperdiçaram seu voto no primeiro turno, expressando de uma maneira ou de outra seu desinteresse ou desencanto pela política.