Impossível não escrever (e refletir) sobre o tema da semana: a eleição de Trump nos Estados Unidos. Passamos os últimos meses acreditando que a vitória de Kamala seria possível, apesar de as pesquisas estarem sempre apontando mais para o lado republicano. Mas a diferença era tão pouca que nos dava a esperança de que os americanos compreenderiam que o que estava em jogo era muito além do que posto na Casa Branca; tratava-se do futuro do mundo nos próximos quatro anos. Eles não entenderam dessa forma. Pesou mais a sensação de que eram mais ricos com Trump no poder.
E como voto não se discute (apesar de ele mesmo achar que sim quando o resultado não lhe é favorável), teremos à frente do maior país do mundo um presidente que está se lixando para o resto do planeta.
Em um ano em que as consequências do aquecimento global são visíveis. Não são mais previsões para um futuro mais distante; são reais. A eleição de Trump é um grave obstáculo para que possamos reinventar nossa relação com a Terra. Se somos nós responsáveis por sua destruição, só cabe a nós tentar salvá-la antes que seja tarde demais. Se é que já não seja. Sem poder contar com o entendimento de uma das nações que mais poluem nosso ar, talvez seja a hora de fortalecer (ou inventar) um pacto entre os países que já se deram conta que a questão ambiental é séria, urgente e prioritária.
Juntos, talvez consigamos fazer alguma coisa para compensar a ausência dos Estados Unidos do jogo pelos próximos anos. Se o slogan de Trump é “Fazer a América grande de novo”, talvez tenhamos que inventar um: “Juntos podemos salvar o planeta, apesar da América”. Num devaneio megalomaníaco penso: por que não boicotar os produtos americanos, como eles já fizeram tantas vezes com tantos países? Que fiquem grandes sozinhos. Sem dúvida, o que mais me preocupa nessa eleição é a questão ambiental. Mas, claro, não é só isso.
Imagino os últimos dias do Zelensky. Ele perdeu seu maior aliado. Sem uma aliança poderosa que reequilibre as forças, é provável que a Ucrânia perca parte de seu território para a Rússia de Putin.
Também não deve estar sendo fácil para os países do Oriente Médio. Se já estava difícil, ficará ainda pior. Tudo indica que as imagens de horror que nos chegam diariamente pelos telejornais serão ainda mais devastadoras e constantes.
O Brasil não está no mapa de Trump. Nós não temos a menor importância para ele. Talvez até ache que nossa capital seja a Buenos Aires de Milei, seu amigo. Melhor assim. A postura pragmática apontada por Lula parece um bom caminho.
Contudo, Trump faz renascer o fantasma do bolsonarismo. Diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, por aqui temos uma Justiça Eleitoral e leis que impedem candidaturas de condenados pela justiça. Mas, independentemente de sua inelegibilidade, temos que ficar atentos aos seus “sucessores”.
O resultado das eleições americanas é um novo alerta para a tentativa dessa nova ordem mundial que tentam nos impor, que busca desacreditar os valores essenciais cultivados desde as revoluções francesa e americana do século XVII, tendo a democracia como pilar fundamental: liberdade, igualdade e fraternidade.
Sem esse entendimento não há civilização e, se o mundo ainda continuar a existir, só nos restará as trevas.