A obesidade é uma patologia. Assistíamos de longe aos esforços de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, para combater o fenômeno que atinge especialmente a sua juventude. Agora, isso nos toca de perto. Cerca de 30% dos nossos jovens padecem do mal, sobretudo nas regiões desenvolvidas do país, provando que não nos livramos dos contrastes que marcam a nossa história: de um lado, no Norte e Nordeste, ainda há marcas evidentes da desnutrição que causa a fome, como comprovou o cientista Josué de Castro. No Centro-Sul e no Sudeste, produtos industrializados (frituras, doces e refrigerantes), um grande mal.
O fato preocupa especialistas, como a dra. Bia Rique, conceituada nutricionista, que lançou o livro “Comer para emagrecer”, em que oferece preciosos conselhos aos adolescentes acima do peso, com os quais lida na sua clínica e também nos serviços gratuitos que realiza na benemérita Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. As cantinas das nossas escolas estão na berlinda.
Para a dra. Bia Rique, o consumo de alimentos calóricos ricos em açúcares e gorduras não traz benefícios à saúde e favorece o ganho de peso indesejável. Não se deve sair de casa sem o café da manhã, para substituí-lo por guloseimas na escola. Ao acordar, devemos sempre tomar um copo de água pura. Ao longo do dia, de preferência fora das refeições, é aconselhável beber oito copos d’água. Até um leigo entende que isso fará bem à função renal.
Os adolescentes obesos serão os futuros adultos obesos, com toda a sua corte de doenças extremamente perigosas, como o diabetes e as cardiopatias. Acresce o fato de que os chamados “gordinhos” têm mais dificuldade na necessária prática de esportes, quando se sabe que é preciso praticar atividades físicas regularmente (três a cinco vezes por semana, por aproximadamente 20 a 30 minutos). A educação física é obrigatória nas escolas públicas e particulares, mas nem sempre ela é exigida, muitas vezes até por falta de espaço.
É natural que se fale em dificuldades financeiras para justificar o que está acontecendo. O fenômeno é mais notado nos que têm recursos financeiros, os alunos que substituem almoço e jantar por lanches rápidos, povoados de biscoitos recheados e sanduíches que podemos classificar de “criminosos”, com o acompanhamento de refrigerantes, que podem muito bem ser substituídos por sucos de frutas bem diluídos em água. Devem ser utilizadas frutas naturais, de que somos tão ricos, polpas de frutas congeladas ou sucos concentrados em garrafas. Será que é tão difícil assim pedir aos diretores de escolas que orientem as suas lucrativas cantinas para esse tipo de Educação Alimentar que fará um bem enorme aos seus alunos?
As refeições, esclarece a dra. Bia Rique na conversa que mantivemos, devem acontecer em horários regulares, sugerindo que se valorize o consumo de frutas, verduras e legumes, aos poucos, sempre variando, para que se crie o hábito saudável. Se esses cuidados forem tomados, é evidente que poderemos minorar ou até mesmo eliminar os riscos da obesidade, que começa a preocupar os nossos adolescentes e as autoridades educacionais.
Jornal do Commercio (RJ),17/9/2010