Todos os participantes na comemoração dos vinte anos do retorno da democracia, como a entendemos no Brasil, não estavam convencidos - é a minha suposição - de que estamos, efetivamente, num regime democrático. Basta, como exemplo, a ditadura com nome de presidencialismo do presidente da República, desde que é sua vontade que deve prevalecer; é a do presidente da Republica.
Desde a sua chegada a mídia tornou público que Marta havia desobedecido a Lei de Responsabilidade Fiscal, deixando-a de lado durante o exercício de seu mandato, como se não tivesse ela sido aprovada e estivesse em vigor. Foi, de resto, a melhor lei assinada e posta em vigor por Fernando Henrique Cardoso. Mas, para a guerreira do PT essa lei ou nada eram a mesma coisa. Ela fez na Prefeitura o que faria em sua casa, mandava com volúpia, e assim foram seus quatro anos de poder.
Em comentário com meu colega de Academia e jornalismo, Ferri de Barros, afirmei, com a adesão dele à minha afirmativa, que seria encontrado um ardil para inutilizar a Lei de Responsabilidade Fiscal, pois Marta não poderia ficar de fora do próximo pleito. Entre a Lei de Responsabilidade Fiscal e a obstinada candidata ao governo do Estado, o PT, o presidente Lula, que deve zelar pelo cumprimento das leis, ganhariam, evidentemente. Marta Suplicy, de resto, já está trabalhando na eleição.
Foi exatamente o que ocorreu nas alturas de Satanás - citação de Ruy Barbosa - do poder presidencial; veio logo o ardil, e, adotado sem resistência. A Lei de Responsabilidade Fiscal ficou esquecida e emergiu triunfante na cena política a candidata derrotada no pleito municipal. Ganhou Marta e perdeu mais uma lei que tem tudo para salvar o Brasil dos abusos com os dinheiros públicos.
Uma ironia foi projetada diante dos democratas sinceros. No dia da comemoração da volta da democracia, em que José Sarney foi saudado como um de seus campeões, temos o desrespeito à LRF, uma lei justa e útil ao país. Esse o nosso Brasil, inclusive com a comemoração democrática dos vinte anos.
Diário do Comércio (São Paulo) 21/03/2005