Não é para bagunçar o coreto da história, mas já me garantiram que quem está sepultado no Memorial JK, em Brasília, não é o ex-presidente, mas um indigente anônimo. Não chega a ser novidade. Outras fontes afirmam que Napoleão não está em Paris, naquela suntuosa tumba que ergueram para ele. Ali repousa, esperando a ressurreição dos mortos, um sargento inglês que integrava o grupo de Hudson Lowe, o responsável pela guarda do prisioneiro na ilha de Santa Helena.
No caso de JK, por ocasião de sua morte na Rio-São Paulo, houve alguma confusão. Ele seria velado, aqui no Rio, no Museu de Arte Moderna, no aterro do Flamengo. Mas Dona Sarah pediu a mim e ao Murilo de Melo Filho que fôssemos ao IML com a nova ordem: o corpo seria velado no saguão da "Manchete", como de fato foi.
Ao saltarmos na calçada do IML, o repórter Tarlis Batista perguntou-nos o que fazíamos ali. Sendo nosso companheiro de Redação, dissemos a verdade: levar o corpo para onde dona Sarah ordenara. Subimos, falamos com os responsáveis (o corpo de JK e o do motorista Geraldo ainda não haviam chegado ao necrotério) e descemos. Do lado de fora, vi um rabecão saindo da garagem do instituto, com Tarlis Batista ovante, no banco da frente, pedindo ao povo que abrisse caminho. Meia hora após, o velório teria início com gente aos prantos, no saguão da "Manchete".
O dia amanhecendo, outro rabecão do IML chegou com os dois corpos verdadeiros, vindos do necrotério. O pasmo do motorista e de seu ajudante foi enorme. Já havia velório, muita gente então, inclusive o Elio Gaspari e algumas autoridades. Bestificado, o pessoal do IML passou em marcha lenta pelo edifício, avaliou a situação e decidiu voltar, levando o corpo de JK e de seu motorista para não sei onde. Ia ser complicado substituir os dois ataúdes que já estavam cobertos com a bandeira nacional.
Quem não quiser acreditar não acredite.
Folha de São Paulo (São Paulo) 04/06/2005