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Coisas do caminho

 

O que é importante


OMESTRE PASSEAVA POR UM CAMPO DE trigo quando um discípulo se aproximou:


“Não sei como distinguir o verdadeiro caminho. Qual é o segredo?”


“O que significa este anel no seu dedo direito?”, perguntou o mestre.


“Meu pai me deu antes de morrer.”


“Pois me entregue.”


O discípulo obedeceu, e o mestre atirou o anel no meio do campo de trigo.


“E agora?”, gritou o discípulo. “Terei que parar tudo o que estava fazendo para procurar o anel! Ele é importante para mim!”


“Quando achá-lo, lembre-se: você mesmo respondeu a pergunta que me fez. É assim que se distingue o verdadeiro caminho: ele é mais importante que todo o resto.”


Do que não é importante


Atravessavam o deserto um administrador, um pintor, um poeta e um crítico. Certa noite, para matar o tempo, resolveram descrever o camelo que os acompanhava.


O administrador entrou na tenda; em dez minutos fez um relato objetivo sobre sua importância. O poeta também usou dez minutos para descrever, em belos versos, a nobreza do animal. O pintor, em traços rápidos, brindou seus amigos com um desenho. Finalmente, o crítico entrou na tenda. Saiu duas horas depois, quando todos já se aborreciam com a demora.


- Eu tentei ser rápido, mas descobri erros no animal - disse o crítico. - Ele não corre. Ele é incômodo. Ele é feio.


E estendeu um calhamaço de páginas para os amigos, intitulado: “O camelo perfeito, ou como Deus deveria ter criado o camelo”.


A pergunta certa


Gun-Zai e seus discípulos caminhavam pelo campo, conversando sobre os milagres de Deus, quando começou a chover. Todos correram para uma cabana que havia nas imediações.


Chegando ali, o mestre se virou para os alunos:


“Só os deixarei entrar se me derem a resposta exata.”


Intrigados, todos ficaram debaixo do aguaceiro, sem saber como agradar Gun-Zai. Tremiam de frio, mas não conseguiam a resposta exata. Finalmente, depois de quase duas horas na chuva, um deles disse:


“Mestre, o senhor não fez nenhuma pergunta, e estamos aqui como doidos, buscando explicações. Não é sábio ficar procurando problemas, se nenhum problema nos foi colocado.”


“Parabéns, é assim que devemos nos comportar na vida. Podem entrar”, disse o mestre, abrindo a porta.


Mesmo assim não acreditam


O índio Juan Diego caminha para a Cidade do México quando vê uma senhora cheia de luz. “Vá ao bispo; sou a Virgem, quero ser honrada aqui”, diz a aparição. Diego obedece, mas ninguém lhe dá importância. A Senhora pede outras vezes, mas o bispo diz que Juan está mentindo. “Podia ter escolhido alguém mais respeitado e ilustrado - pois só assim a Igreja escuta”, reclama o índio com a Virgem.


“Eu lhes darei um sinal”, diz ela. E flores nascem no meio do deserto. Juan enche seu poncho com as flores e leva até a Igreja. Mesmo assim não acreditam.


Quando Juan abre o poncho para deixar as flores em cima da mesa, no tecido está gravada a imagem da Virgem.


A imagem passa a ser conhecida como Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira das Américas. Até hoje, todos os testes para provar falsificação deram resultados negativos.


 


O Globo (Rio de Janeiro) 5/2/2006