O poeta Lêdo Ivo, um dos grandes sonetistas brasileiros, considera que há modernidade, na obra de Coelho Neto (1864-1934). E pede que escreva sobre aquele que foi eleito pela revista Malho, Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em concurso público, realizado no ano de 1928. Fez par com Olavo Bilac, o Príncipe dos Poetas Brasileiros.
Para o crítico Wilson Martins (Jornal do Brasil, 4/07/09), Coelho Neto, como figura representativa do código literário do seu tempo, foi um grande injustiçado, opinião corroborada por Guimarães Rosa, que ocupou a sua cadeira na Academia Brasileira de Letras. A vitória do modernismo se fez como se houvesse necessidade de abater um grande inimigo, no caso, Coelho Neto.
Para muitos, era um intelectual superado. Atacado pelos modernistas, a sua acuidade pode ser medida, hoje, pela atitude tomada diante dos que eram predadores da Natureza. Reparem nesse trecho, recordado por Josué Montello: “Com a morte das árvores, desaparecem as fontes: rios que rolavam águas abundantes derivam agora de filetes rasos e tão escassos que uma quente semana de verão é bastante para secá-los; a caça rareia.”
Naquela época, Coelho Neto utilizou a sua pena e a elogiável eloquência para engrossar a voz de autores como Euclides da Cunha, que também se insurgia contra os desmatamentos e as queimadas, especialmente na Amazônia. Uma atitude que hoje pode ser considerada de vanguarda.
Filho de português com índia civilizada, nascido no Maranhão, Coelho Neto fez vida literária no Rio de Janeiro. Foi professor de Literatura do Colégio Pedro II. Deixou 112 obras publicadas e 50 peças teatrais. Alcançou a presidência da Academia Brasileira de Letras. Sua obra foi diversificada, o que contribuiu para a crítica dos invejosos. Escreveu romances, contos, crônicas, teatro, poesia memórias, conferências, antologias e livros didáticos. Segundo Afrânio Coutinho, na sua apreciada Enciclopédia de Literatura Brasileira, editada pelo MEC, em 1990, “o modernismo condenou-o como representante do passadismo, acusado de afetação, palavreado rebuscado e enfático, abuso de termos incomuns, prolixidade e helenismo.”
Era muita coisa para um só estilo, mas as críticas, com o tempo, foram atenuadas e ele teve o reconhecimento da sua obra. Com a esposa Gabriela, teve 14 filhos e lutou muito para sustentar a família. Entrou para o quadro social do Fluminense Futebol Clube, do qual se tornou fanático torcedor. Alguns dos seus filhos defenderam as cores do clube tricolor, o mais famoso deles, Preguinho. Num FlaxFlu, em 1912, entrou em campo com a sua bengala em riste, querendo pegar o juiz, que não concordou com a defesa de uma penalidade máxima por parte do grande goleiro Marcos Carneiro de Mendonça (que começou a carreira no América F.C.) Se a turma do deixa disso, que já existia na época, não tivesse interferido, o nosso acadêmico teria acabado com o juiz, que na época era chamado de referee.
A paixão pelo Fluminense era tão grande que foi autor do seu primeiro hino, para comemorar a inauguração da terceira sede. O coração era mesmo tricolor.
Jornal do Commercio, 12/2/2010