Interessa, sem dúvida, a classificação do Brasil como nação emergente, com vastíssimas possibilidades econômicas, com excelente campo de investimentos. Mas interessa, também, como nação aberta aos ventos da História e ao desenvolvimento da ciência, da tecnologia, das artes e das letras. Enfim, interessa, de par com outros domínios da cultura, que saiamos, o mais depressa possível, do provincianismo. Que é a nossa principal característica como nação.
É um peso morto esse que estamos carregando, como podíamos estar num patamar mais elevado, pois temos instituições culturais para alcançar essa posição. É essa uma pena, pois temos um povo bom, pacífico, que deseja trabalhar para manter-se em situação civilizada, sem as fraquezas, as notas dissonantes do provincianismo, esse fator de baixo conceito e que não nos têm nas esferas políticas do grande mundo das potências antiprovincianas.
Tenho feito, mais no passado do que no presente, o possível para ilustrar os meus doutorados com viagens que realizei em grande número. Foi como executei o provincianismo que se incrustou em mim no interior, de onde vim para a aventura da capital. Quando, ao cabo de muito viajar, fiz uma avaliação do que aprendera, do que fora útil e do que fora simples diversão, conclui que aprendi o que era o provincianismo e o antiprovincianismo, fator sem o qual não se institucionaliza, no sentido fartamente estudado sobre a instituição por Georges Rénard, uma nação como o Brasil, dotada de todos os meios para uma grande posição entre as nações opulentas em civilização e cultura do mundo.
É o que desejo para o Brasil, não quero que os bisnetos de minha mulher, recentemente falecida, vivam numa nação grandiosa, não há como negar, mas com a perfeita integração nas notas que devem distingui-la por sua evolução civilizadora e cultural.
Não é difícil. Meu saudoso chefe Assis Chateaubriand encarou esse fenômeno quando lançou numa suntuosa tarde de maio, a bordo de um cruzador da Marinha, reunida a flor da sociedade brasileira, a similar da Escola de Chartes, ou uma escola de líderes políticos e sociais. Infelizmente a moléstia o paralisou num leito sua idéia. Athayde tentou retomá-la, mas morreu e um projeto magnífico gorou. Mais uma perda irreparável, pelo menos até agora, para o Brasil.
Eu gostaria que os empresários se interessassem por essa idéia, a fim de reformarmos o Brasil, cortando de sua história recente e antiga o provincianismo que tanto o prejudica.
É uma esperança. Peço a Deus que me ajude, para ajudar o Brasil no arranco do desenvolvimento completo.
Diário do Comércio (São Paulo) 23/06/2005