Considerado hoje como a sétima arte, o cinema teve origem mais modesta, quando foram projetadas, na parede de um prédio em Paris, algumas cenas da chegada de um trem a Vincennes. Pouco depois, outras cenas documentais foram exibidas: a entrada de operários numa fábrica e um sujeito fazendo ginástica no jardim de sua casa.
Na melhor das hipóteses, a brincadeira tinha tudo para se transformar numa atração dos parques de diversão, circos e mafuás. Somente aos poucos a nova linguagem transformou-se em vocábulos capazes de contar uma história, fazer um protesto, tornar-se uma arte que mistura romance, poesia e crítica.
Por isso mesmo, além de se tornar uma expressão de arte, o cinema é também um poderoso veículo de informação em todos os campos, sobretudo no da saúde. Basta lembrar a campanha de esclarecimentos sobre a qualidade de vida, a necessidade da camisinha e dos exames precoces para combater o câncer.
Devo ao cinema alguns momentos que tomei como referência de minha vida pessoal e profissional de escritor. Devo também ao cinema o alerta que me levou a um especialista que operou as minhas cordas vocais.
O filme contava a história de uma cantora que estava perdendo a voz e que se recuperou após uma cirurgia. Mesmo sem ser cantor, lucrei bastante quando voltei a falar normalmente, embora nem sempre tenha sido entendido.
Felizmente, ganho a vida com palavras escritas. Se fosse depender da fala, estaria vivendo na pior, debaixo de um viaduto e coberto por folhas de jornal -como aquele personagem que Noel Rosa eternizou.
Esse problema, que me acompanha desde a infância, é responsável por vexames que dei ao longo da vida. Não é culpa do cinema nem da medicina. É minha mesmo.
Folha de S. Paulo (RJ), 6/5/2010