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Cidadania e voto obrigatório

 

As pesquisas sobre a rejeição ao voto obrigatório evidenciam um claro racha da consciência nacional. O Brasil de cima, por força, vê no voto obrigatório a arma do país da marginalidade social, para vencer o nosso status quo de sempre. Mas é significativo, também, que não se veja uma arregimentação maciça do outro lado, a  entender que o voto compulsório é condição sine qua non da mudança.

No país instalado, a visão liberal de deixar à consciência de cada um a ida às urnas prejudica uma nação desprovida do sentimento amplo da injustiça social, curiosamente, em muitas franjas da nossa dita elite. Esta mesma que avulta, hoje, no protesto ao comportamento atual das instituições, e brande uma crescente ameaça de anulação do voto no próximo pleito.

Soma-se, aí, nessa rejeição da ida às urnas, o clássico critério da exigência de capacitação e preparo dos governantes para um adequado desempenho no Planalto. De toda forma, essa recusa de voto é muito mais clara no Brasil maduro, num contraste visível com as novas gerações, ao reiterar a obrigação eleitoral.

Nas classes menos favorecidas, a maioria, ainda que por percentual apertado, irá ao voto, mesmo quando não obrigatório. E, significativamente, a opção por Dilma é vista como a da candidatura ideal. A toma de consciência vem de par com a significação da escolha na luta continuada – e essencialmente democrática – pelo definitivo implante das estruturas de mudança.

Mais nítida, hoje, é a falta de uma consciência defensiva, ainda, do país de cima, demandada pela preguiçosa desnecessidade de ir às urnas. O mais inquietante Membro do Conselho das  Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, da Academia Brasileira de Letras e da é que o voto nulo é ainda maior na zona sudeste do país, e nos grupos com ensino Nosso establishment continua a se vincar nas velhas estruturas coloniais, por mais que penetrado pela nova mobilidade social e pelo avanço ainda agoraassegurado no salário mínimo e no Bolsa-Família.

Derruída a antiga marginalidade, os novos protagonistas não superariam a velha inércia da economia de mercado. Inquieta, por força, este agravar da contradição de consciência dos dois Brasis, e como a visão do país “para si” sofre, ainda, da falta do país “para todos”.

Jornal do Commercio (RJ), 16/5/2014