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Chediak, um cavalheiro

 

Dona Rosália telefona e, bastante emocionada, comunica o falecimento do seu marido, meu querido amigo Antônio José Chediak. Foi uma das pessoas mais notáveis que conhecemos ao longo da vida. Como professor, político e administrador. Bom mineiro, manteve as características de suavidade no trato de todas as questões nacionais, ele que foi um dos melhores amigos do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.


Foi assim que o conhecemos. Gozava de grande intimidade, desde as Alterosas, com JK, de quem foi também um permanente assessor. Era muito comum os dois conversarem a sós, sobre assuntos que só Deus sabe. Em muitos discursos, no entanto, era possível sentir a presença de Chediak, na leveza do estilo e na essência do que afirmava.


Jamais se afastou dessa companhia. Tinha orgulho da amizade, que se tornou mais forte ainda quando houve a cassação de JK. Ele saiu do Brasil, mas jamais perdeu o contato com o velho amigo. Na volta do ex-presidente do exílio, Chediak foi companhia constante e era assim que sempre visitava a Manchete. Eram figuras extremamente agradáveis e cheias de histórias para dizer às novas gerações.


Quando JK resolveu contar as suas experiências de homem público, encontrou no intelectual Antônio José Chediak o interlocutor talhado para a função de revelar segredos possíveis daquele longo convívio. Sob esse aspecto, teve a companhia de grandes escritores, como Caio de Freitas, Josué Montello e Carlos Heitor Cony. A edição de "Como construí Brasília", feita com tal solidez, tinha mesmo que ser um sucesso, além de registro necessário sobre tudo o que se referiu à construção da Capital, com toda a sua glória e os percalços inevitáveis. Vida e obra estão, íntegras, nesse registro histórico, seguido de outros.


Chediak foi um grande professor de Língua Portuguesa. Escreveu livros e tivemos o privilégio de editar alguns deles, na Bloch, em parceria com o seu grande amigo Walmírio Macedo. O conteúdo era rico e criativo, como se poderia esperar de autores experimentados. A dupla teve a felicidade de conviver no tradicional Colégio Pedro II, do qual Chediak foi exemplar diretor por muitos anos.


Com o seu jeito manso, colocou a casa em ordem: criou o Curso Superior de Formação de Professores, também funcionando em São Cristóvão, para dar um plus aos que, empolgados pelo magistério, desejassem galgar mais um degrau na formação profissional.


Jamais se desligou da sua paixão pela língua portuguesa. Vez por outra, no entanto, incursionava pela política, como ocorreu quando atendeu ao apelo do amigo Francisco Negrão de Lima para ser secretário de estado de Administração da antiga Guanabara. Com o sucesso de sempre. Ainda colaborou para uma nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, na ABL, além de ter coordenado o grupo que preparava edição do dicionário. Morreu com o status de acadêmico, embora, por modéstia, tenha se recusado a receber os votos certos dos seus admiradores da Casa de Machado de Assis.


Jornal do Commercio (RJ) 2/3/2007