RIO DE JANEIRO - Como na maioria dos assuntos que preocupam a humanidade em geral e, em particular, a humanidade de hoje, não tenho opinião formada sobre o atual presidente da Venezuela. Vejo nele algumas coisas positivas, outras negativas. Trata-se, evidentemente, de um ditador em potencial, mas também não tenho opinião segura sobre os ditadores, desde que não sejam ladrões ou sanguinários. Alexandre, César e Napoleão foram ditadores, mas deixaram bom saldo para a história.
Não é o caso de Hugo Chávez, que, não faz muito, sofreu pesada derrota eleitoral em seu país e recebeu do rei da Espanha um "cala a boca!" humilhante, mas merecido.
Com a libertação de duas reféns das Farc, operação bem-sucedida, que ele articulou e realizou, deu a volta por cima e se colocou no pódio do maior acontecimento internacional neste início de 2008.
Para minimizar a proeza feita por ele, os entendidos nesses assuntos classificam a operação do resgate como uma ação apenas midiática, ou seja, um fato produzido para gerar mídia, ocupando espaços na imprensa e na TV. Evidente que é.
Um corredor de Fórmula 1, que arrisca a vida para vencer uma prova, também produz um fato midiático, tem sua foto no pódio publicada em todo o mundo, mas nem a foto nem a repercussão da vitória diminuem o valor intrínseco de seu feito. Ele ganhou porque sua intenção apenas era vencer. O resto é conseqüência.
O maior fato midiático da humanidade foi num tempo em que nem havia mídia. Um dissidente do judaísmo foi crucificado num morro ao lado de dois ladrões. Nos 2.000 anos seguintes, esse fato, que poderia ter passado despercebido, dividiu a história em antes e depois, fez toneladas de textos e imagens invadirem o mundo e gerou detratores e mártires.
Folha de S. Paulo (SP) 13/1/2008