No meu já longo convívio com a Previdência Complementar, perto de 20 anos, aprendi a valorizar a política de recursos humanos por entender que é um fator estratégico essencial.
Nas visitas feitas com o Instituto Cultural de Seguridade Social (ICSS) à Wharton School, na década de 90, em busca de conhecimento, ao lado de dirigentes de fundos de pensão, e a diversos países da Europa, para trocar experiências na matéria, como fizemos na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Suíça e principalmente na Holanda, ficou claro no meu espírito que um dos melhores investimentos que se possa fazer, para enriquecer o sistema, passa necessariamente pelo estímulo permanente ao capital humano, tão ou mais relevante do que o capital físico.
A área médica parece ter entendido, antes de outros setores, essa importante verdade. Veja-se o que ocorre nos Estados Unidos e, mais particularmente, na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, onde também estivemos. No rigoroso sistema norte-americano de certificações, a UJH tem recebido, nos últimos anos, a nota máxima, ou seja, a golden medal, o que lhe assegura uma posição ímpar entre os hospitais norte-americanos.
Deve-se louvar o trabalho da Secretaria de Previdência Complementar no que se refere à certificação de dirigentes. Para alguns trata-se de uma evolução como ocorreu com os cursos de Direito, no país, quando foram criados os Exames de Ordem. Para exercer a profissão, é necessário passar nesses exames, que são muito rigorosos, demonstrando, aliás, a grande defasagem existente entre o que se ministra nos cursos superiores brasileiros e o que pede o mercado de trabalho. Os exames de Ordem constituem-se em verdadeiros massacres, sobretudo nos grandes centros metropolitanos, onde fica evidente que, além do conhecimento precário nas matérias específicas do Direito, há uma tragédia na aplicação dos testes de língua portuguesa. A reprovação é monumental. Isso reflete carências que vêm desde a educação básica, passando pelo ensino superior. É comum o fato de petições serem feitas sem o mínimo cuidado com a língua de Camões e Machado de Assis, dificultando muitas vezes a verdadeira intenção do peticionário, pela falta de compreensão dos motivos que o levaram à reivindicação.
É um fenômeno universal vincular a certificação à emissão de uma licença, dada pelo órgão próprio ou por uma entidade que esteja, pela sua competência e tradição, acima de qualquer suspeita, como é o caso da Abrapp ou do Instituto Cultural de Seguridade Social.
Ocorre-nos a lembrança dos oito anos em que pertencemos ao Conselho Federal de Educação e ao Conselho Nacional de Educação. Na Câmara de Ensino Superior, que dirigimos durante três anos (a partir de 1980), vez por outra deparávamos com o pedido de concessão do título de professor de notório saber. Sempre era lembrado o caso do arquiteto Oscar Niemeyer, o genial criador de Brasília, ao lado de Lúcio Costa. Se os dois resolvessem lecionar em algumas das nossas Universidades (e Oscar, de uma feita, demonstrou-nos essa vontade), quem teria coragem de alegar que eles não tinham competência? Mas eram exceções e, com os cuidados devidos, concedíamos raramente o notório saber, como ocorreu de uma feita com um eminente mestre da Universidade de Brasília.
É preciso deixar claro que a certificação deve existir, pois é uma necessidade do mercado, uma espécie de cereja do bolo.
Jornal do Commercio (RJ), 30/10/2009