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Cenas da 3° Guerra

 

Devemos lamentar o recente atentado terrorista em Londres, mas, no ponto a que chegamos, não deveria haver surpresa. Foi um crime mais do que anunciado, na seqüência de outros já cometidos pelo terror e de outros que ainda serão cometidos. Desde o 11 de Setembro, vivemos uma guerra -não fria, como a outra, que terminou com a queda do Muro de Berlim.


Por ocasião do atentado ao WTC, escrevi neste mesmo canto de jornal que havíamos entrado na 3ª Guerra Mundial, uma guerra sem espaços delimitados, sem terra de ninguém, sem movimentação de tropas, sem as regras da Convenção de Genebra.


Os combatentes não estariam separados por zonas inimigas ou aliadas. Estariam todos lado a lado, nas mesmas ruas, nos mesmos trens, nas mesmas cidades simultaneamente ocupadas pelos exércitos azul e vermelho -uso a classificação dos teóricos militares, que, em aulas de tática, dividem os exércitos em azul e vermelho. Na guerra do terror, todos são azul e vermelho.


O mais dramático desse tipo de guerra, que ameaça ser a mais longa da história, é que ela não tem a continuidade tradicional das guerras, com batalhas estudadas previamente pelos estados-maiores, com terrenos e objetivos táticos definidos. Uma guerra com hora certa para começar e que só acaba com a vitória de um dos lados.


Nesse tipo de luta, seria absurdo se, no dia 12 de setembro de 2001, houvesse o contra-ataque do lado atingido. A contra-ofensiva veio aos poucos, em lances isolados contra os suspeitos, até chegar à invasão e ocupação do Iraque, num episódio de guerra tradicional.


O contra-ataque do adversário está vindo e virá em gotas, em ações como as de Madri e Londres, com o elemento surpresa anulando a superioridade do lado tecnologicamente mais forte. Por isso mesmo, uma guerra que não será vencida militarmente, mas politicamente. Mais ou menos como foi possível acabar com a Guerra Fria.




Folha de São Paulo (São Paulo) 12/07/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 12/07/2005