A atual crise de segurança tornou-se uma questão determinante nos cenários delineados para o futuro do governo federal - regularmente divulgados pela consultoria Macroplan, empresa especializada em estratégia e estudos prospectivos que acaba de concluir estudo que busca antecipar se Michel Temer terminará o seu mandato e, isso ocorrendo - o que é mais provável - como será o desempenho do governo nos próximos dois anos, baseados em tendências consolidadas e em incertezas com potencial desestabilizador do governo e de sua base de sustentação.
A tendência mais provável, pelo estudo da Macroplan, é que o país enfrente, no campo econômico, dois anos turbulentos, com alta volatilidade e reduzida previsibilidade, especialmente este ano. No campo político, é certo que Michel Temer não será um incumbente competitivo, se vier a ser candidato – o que hoje parece improvável, diz a consultoria
Os cenários da Macroplan levam em conta ainda quatro fontes de incerteza. No campo externo, o governo de Donald Trump e seu imenso potencial de perturbação e instabilidade com prejuízos para o ambiente global de negócios. E no campo interno, a atual crise de segurança pública e do sistema prisional, os desdobramentos da operação Lava Jato e o julgamento pelo TSE de irregularidades do financiamento da campanha Dilma. São questões que podem aniquilar candidaturas e lideranças políticas emergentes - em vários partidos, entre eles o PT e o PSDB.
O presidente da Macroplan, o economista Claudio Porto, destaca que a crise de segurança pública e do sistema prisional é um ingrediente adicional de tensão que agudizou muito desde o final do ano passado, mas lembra que, neste campo é preciso se render às evidências apontadas por "sua excelência o fato" como dizia Ulysses Guimarães: “Há uma comoção nacional pontual em face das chacinas ocorridas nos presídios, mas a verdade é que a famosa cordialidade dos brasileiros é um engodo. Não há uma cultura de paz no Brasil. Há uma cultura da violência disseminada na sociedade brasileira. Basta atentar para o fato de que uma parte considerável da população acredita que bandido bom é bandido morto”, afirma.
Estudo da Macroplan divulgado no final de 2016 - Desafios da Gestão Estadual - mostra que entre 2004 e 2015 a taxa de criminalidade aumentou em 19 dos 27 estados brasileiros, - com crescimento expressivo no Nordeste e Norte. Em 2015, a cada 9 minutos um brasileiro foi vítima de homicídio e de 2011 a 2015 o Brasil registrou um número maior de pessoas assassinadas do que na guerra da Síria no mesmo período. O Brasil experimenta uma escalada de violência que não é conjuntural e que tem forte potencial de se transformar em um problema de segurança nacional. ( Amanhã, os cenários)
Continuidade
Na coluna de ontem, ao elogiar o Espírito Santo pelo trabalho feito na segurança pública, não dei o devido destaque ao antecessor, governador Renato Casagrande, do PSB, que, ao assumir em 2014, recebeu um sistema penitenciário que estava sob severas críticas, inclusive internacionais. O governo de Paulo Hartung, do PMDB, havia investido R$ 5 bilhões na segurança pública, mas no governo de Casagrande outras medidas estruturantes foram adotadas, revertendo a situação. Reeleito em 2014, Paulo Hartung deu continuidade ao programa de segurança, e colhe hoje bons resultados. O Espírito Santo torna-se assim um bom exemplo de governos de partidos distintos dando continuidade a programas de serviços públicos, assim como acontece em Minas na questão carcerária.