Levy na Fazenda, previsivelmente com poderes para tomar as medidas necessárias e até impopulares, enquadra-se também num cenário que a Macroplan, empresa especializada em estratégia e estudos prospectivos, está elaborando para o Brasil 2015-2018, o terceiro cenário, e menos provável. Assim como Maílson considera uma mudança de rumos na economia como também menos provável, mas que, diante da escolha de Levy, ganhou nova força.
O que Maílson teme é que a presidente Dilma não tenha condições políticas para garantir a atuação de Levy nos dois primeiros anos, que serão muito duros e sofrerão muitas críticas de alas do PT que já o criticavam antes, quando era secretário do Tesouro do então ministro Palocci.
Eu também temo que Levy não tenha um ambiente favorável para exercer todo o poder de que necessitará. Em uma coluna recente, escrevi que Dilma escolher um ministro da Fazenda como Henrique Meirelles ou Trabuco, do Bradesco, seria como dar um salto triplo carpado. Bem que ela tentou, mas a escolha de Levy, sem tanto peso político, também representa um avanço no quadro econômico muito bem-vindo.
O economista Claudio Porto, da Macroplan, chamou esse cenário de “reforma política e retorno da racionalidade econômica”, que encerraria um aparente paradoxo, pois emergiria de uma grave crise político-institucional em razão de impactos intensos e amplos do “petrolão”, associados com uma aguda deterioração de expectativas econômicas em 2015.
Como consequência benigna, experimenta o desenrolar de uma “Operação Mãos Limpas à brasileira”, com a punição de corruptores e corrompidos, o que torna praticamente inevitável a reforma política, a “repactuação da governabilidade” e consequente redirecionamento da política econômica “pró-mercado”, com uma progressiva reabertura da economia e reconquista da confiança dos principais agentes econômicos em relação ao Brasil.
Neste cenário, o setor privado é o principal “motor” do crescimento, e o “tripé macroeconômico” é revigorado com disciplina fiscal, metas de inflação rigorosas e decrescentes, e câmbio flutuante. Porto não afirma isso, mas a escolha de Levy para a Fazenda pode ser o indício de que a presidente Dilma está antevendo os desdobramentos do caso da Petrobras e antecipou-se às consequências possíveis tentando controlar a parte econômica.
No cenário da Macroplan, o Brasil experimenta uma recessão ou baixo crescimento e aumento temporário do desemprego provavelmente em 2015 e 2016, mas segue uma trajetória semelhante à do primeiro mandato do ex-presidente Lula, com PIB predominantemente ascendente (média entre 3% e 3,5% ao ano) e inflação declinante, podendo chegar a 3,5% em 2018.
Como prever qual cenário se concretizará? A resposta a essa pergunta, revela Claudio Porto, presidente da Macroplan, não é nada fácil no atual momento. “Não se pode esquecer que o Brasil chega ao fim do primeiro mandato da presidente Dilma na iminência de uma crise aguda”.
As expectativas em relação ao futuro estão sendo conduzidas não apenas pelo conjunto de indicadores econômicos previsíveis no horizonte, mas também em função do quadro político-institucional associado ao desdobramento do atual processo do “petrolão”. E antecedentes históricos recentes em nosso país apontam que algumas vezes, se não chegamos a um “final feliz”, pelo menos reorientamos nossas rotas rumo a um “porto seguro”.
A escolha do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, ainda dependente de confirmação oficial, pegou o ex-ministro Maílson da Nóbrega, hoje um conceituado consultor, em meio a uma palestra organizada pela Rede Gazeta de Notícias em Pedra Azul, no Espírito Santo. Ele saudou a escolha, que parece promissora para a tomada de decisões do segundo governo de Dilma, indicando um retorno à racionalidade econômica.