Entendendo cada vez menos de política, tampouco compreendendo a vida pública, não posso responder aos leitores que me cobram um comentário sobre a crise provocada por mais um escândalo que motivou a criação de uma CPI.
Já disse em crônica da semana passada que não acredito nela, são tantos os atalhos e tão movediças as forças que lutam contra ou favor de uma completa apuração dos fatos, que o resultado nem será a tradicional pizza (que já seria alguma coisa), mas nem isso, que é coisa nenhuma mesmo.
Na atual crise, considero que há dois outsiders em atividade, dois políticos por sinal do mesmo partido, que passam e ultrapassam as convulsões que explodem de todos os lados, não deixando pedra sobre pedra, tornando todos, governo e oposição, merecedores de suspeitas e até mesmo de acusações.
O primeiro outsider é Lula. Goste-se ou não dele, aprove-se ou condene-se sua atuação na Presidência da República (eu pelo menos o considero culpado de tudo), o fato é que as crises resvalam sobre sua pessoa, os escândalos passam ao largo. Até mesmo os erros mais graves que comete ou deixa outros cometerem não o atingem diretamente.
Collor e FHC, dois de seus antecessores, em graus diferentes, pegaram as sobras das crises que motivaram. Lula está no olho do furacão, mesmo assim o turbilhão não chega a penetrá-lo.
O outro outsider é o senador Eduardo Suplicy. É acusado de confuso, de ingênuo e até mesmo de desorientado na selva escura da política nacional. Mas tem a coragem e a coerência de, acatando ou não as conveniências do momento e os interesses provisórios do próprio partido, sempre se destaca seguindo a linha de ação ditada por sua formação, por sua coerência moral e democrática.
Prova disso foi a declaração de Zé Dirceu, em resposta a uma pergunta sobre a prometida punição aos petistas rebeldes. Dirceu admitiu: "Suplicy é um caso à parte".
Folha de São Paulo (São Paulo) 06/06/2005