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Caso Covaxin incrimina Bolsonaro

 

Já estava claro que o presidente Bolsonaro tinha participado da pressão para comprar a vacina da India, pois ele mesmo pediu ao primeiro ministro, Narendra Modi, para adiantar o processo. E os depoimentos do funcionário do ministério da Saúde e do irmão dele, que é deputado, afirmando que contaram ao presidente sobre os indícios de fraude e nenhuma providência foi tomada, deixam mais clara ainda a situação. É um fato mais grave do que o mensalão, porque naquele episódio, não havia indicação de que o então presidente Lula havia interferido  diretamente, embora fosse o pressuposto, porque ele fora avisado do que estava acontecendo e não tomou nenhuma providência,  como Bolsonaro faz agora.
O caso da vacina é perigoso, porque o presidente interferiu diretamente na trama, usou seu cargo para acelerar um processo eivado de irregularidades e um órgão federal para liberar a vacina – tudo gira em torno dele. Isso pode ser o Fiat Elba de Bolsonaro. Caso o deputado e o irmão dele confirmem sexta-feira na CPI o que aconteceu, será uma coisa grave, grande, que se descobriu. Não é questão de processar o presidente ou pedir impeachment por um crime eventual, ou uma ilação, ou ainda uma série de eventos que pode se  interpretar que o presidente estivesse na ponta. Documentos comprovam que Bolsonaro, pessoalmente, participou da negociação. O destino faz das suas – quem diria que uma denúncia envolvendo compra de vacinas poderia envolver o presidente na CPI. A política brasileira é cheia dessas coincidências, desses imprevistos.

O Globo, 23/06/2021