Li que a governadora do Estado do Rio de Janeiro vai dirigir uma carta ao governo inglês protestando contra o jornal The Independence pela reportagem sobre a cocaína e a criminalidade na cidade que governa, com seu marido e outros amigos e colaboradores. Tempo perdido, que poderia ser usado em outros assuntos. Se há um país no mundo que respeita a imprensa, esse país é a Inglaterra. É a própria pátria da liberdade de informação.
A senhora Rosinha Mateus, pelo casamento Garotinho, com seu marido deveriam ler a reportagem publicada no O Estado de S. Paulo , há dias, em que a iminência de uma explosão humana no sistema carcerário do Brasil é mais do que possível, é provável. De fato, basta compulsar as publicações oficiais, para saber que nas prisões de todo o país não cabem mais detentos, tal a escassez de espaço físico para abrigá-los todos. Daí a ameaça de explosão denunciada pelo grande jornal paulista.
Mas, há responsabilidades nisso. E uma delas é da Justiça, que pratica atos incompreensíveis, como a liberação do responsável pelo atropelamento e a morte de uma jovem de 16 anos, na porta de uma boate da Vila Olímpia, zona onde se reúne a juventude para se distrair na cidade gigante e não raro, para magoa nossa, intolerável. Pois a juíza que mandou para a rua o criminoso do automóvel que deveria, como manobrista, guardar, será ou já foi objeto de repúdio, pelo mau exemplo que dá.
A Justiça, da qual demos reportagem sobre os poderes em edição anterior a esta, tem o dever de usar de suas prerrogativas para impedir o crescimento da crise da perda cada vez maior do valor da vida, como estamos, a cada dia, observando. A liberdade desse assassino, liberdade que a juíza evidentemente justifica, causou má impressão na opinião pública. Mas já está efetivada e o criminoso prestará contas em liberdade. Em suma, protestar o que escreveu um jornal, da realidade no Brasil, é inútil, principalmente na Inglaterra.
Diário do Comércio (São Paulo) 26/10/2004