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Caro é o atraso

 

Como sempre acontece, quando a pauta se refere ao magistério, houve um debate apaixonado na cidade fluminense de Campos dos Goitacazes, sendo o tema avaliação. A louvável iniciativa foi da Câmara de Vereadores. O leit-motiv, a nota 2,9 alcançada no Ideb (índice de desenvolvimento da educação básica), em que o município da cana de açúcar ficou em último lugar, no Estado do Rio de Janeiro.


Na busca das causas, avultou a questão dos salários pagos aos professores, considerados abaixo da crítica. Na oportunidade, criticamos a permanente ojeriza dos secretários da fazenda quando se trata de pagar melhor aos nossos sacrificados mestres. Em geral, o argumento é o mesmo: eles são muito numerosos e a folha do município não suportaria o ônus dos necessários aumentos. Ficaria caro, no dizer dos burocratas.


Na crítica que formulamos, concluímos que caro é o atraso. Nas nações que deram prioridade à educação, a partir de maiores recursos financeiros e a conseqüente valorização do funcionalismo público, os resultados práticos não se fizeram demorar – e houve o crescimento social e econômico. Por que em Campos seria diferente?


Reclamou-se do estado precário em que se encontra a maioria das suas escolas. Acrescentamos a necessidade de generalização do uso de laboratórios, especialmente de informática, e de bibliotecas (só 20% da rede contam com elas organizadas). Mas onde nos fixamos, provocando amplo debate, foi na formação e aperfeiçoamento de professores e especialistas, apesar dos baixos salários. Sugerimos um novo plano estratégico de desenvolvimento para a cidade de José Cândido de Carvalho, com um choque de estímulo, como nos foi sugerido pela professora Joílza Rangel, coordenadora regional do Norte Fluminense I, responsável por dezenas de escolas estaduais.


Foi lembrada a experiência do sucesso de escolas estaduais do interior, como em São Sebastião do Alto e Trajano de Moraes, onde ocorre uma perfeita integração envolvendo mestres, pais e professores, além do indispensável tempo integral. As duas cidades foram as primeiras colocadas na avaliação do Ideb – e buscaram-se as causas desse êxito. Ficou patente o grande empenho dos diretores dessas escolas, com uma notável auto-estima.


Em Campos são 215 escolas municipais e 4.500 professores, para uma população escolar de 54 mil alunos. Falou-se na preservação da necessária utopia (intervenção do aluno Vítor), no humanismo e ética, na valorização dos estágios e na construção da cidadania, com a manutenção da capacidade de se emocionar, feliz intervenção do vereador Otávio Cabral.


Acrescentamos, com a concordância geral, desde que haja o respeito aos três “A”s: atenção, afeição e apreço, como merecem alunos e professores. Concluiu-se que deve ser feita a avaliação permanente dos professores e a valorização do ambiente educativo, além de criar um enlace positivo entre Estado e Município, para recuperar primeiramente 1,5 em matéria de nota, no ano de 2008. E tornar realidade o que se expressa no hino campista: “Nada iguala os teus dons, os teus primores”.


Jornal do Commercio (RJ) 3/8/2007