A sucessão presidencial prescinde, hoje, da relação entre Lula e o partido, diante do castigo dos favores públicos que derrubou com o mensalão, o jogo de mediações previsto pela mobilização inicial do petismo. Doutra parte, o carisma não é intrinsecamente da pessoa, mas da saga em que a visão popular não dissocia Lula do "Lula lá".
A figura do presidente é a dessa fiança histórica única, mas do que dote pessoal ou iconológico. O apoio continua pela impulsão originária deste "povo de Lula" que se sobrepôs às mecânicas partidárias e se assenta sobre esta profunda identificação simbólica.
Aí estão, objetivamente, a melhoria do país de fundo, as vantagens efetivas de acesso social, o avanço econômico, a integração comuntária, reforçada com a reinteração do primeiro impulso nos resultados crescentes do PAC. Tal implica uma percepção global de uma política de mudança, que soma a bolsa-família à lavoura familiar, ao avanço da malha do SUS, bem como às polítcas de assentamento rural. Mas perdura ainda uma primeira dúvida, quanto à efetiva subsistência deste apoio maçiço que, pelas regras do jogo democrático, que suporia a permanência efetiva do governante. Lula não teria necessariamente as condições de aponte de um sucessor, que a consciência popular visse como um "alter ego", e as próprias condições da crise do PT, e devastação de seus delfins, impediram tal desdobramento, natural do sucesso da Presidência.
Todos os incidentes do processo de indicação de um candidato do sistema ficariam, avassaladoramente, na dependência do aponte do Chefe de Estado. Mas, no interregno, pergunta-se o inconsciente coletivo do "povo do Lula" faria, de fato, esta transferência. Enfrentaria a perda e a confiabilidade do carisma do homem, em todo o seu protagonismo encarnado, para se entregar à estrita credibilidade do nome ungido?
Nas condições objetivas em que o tempo desse processo obedeceria a todas as vicissitudes da candidatura finalmente, de Dilma Roussef, enfrenta-se o tumulto vindo da natureza, e não mais dos labirintos políticos. A ameaça do câncer levou a uma instintiva unanimidade de apoio nacional, na rejeição da vontade dos deuses, contra a sofrida vontade da humana condição eleitoral.
O castigo da campanha aponta agora também ao castigo físico, mas socorrido para uma esperança que consagrou nacionalmente a candidata ideal do Presidente. O futuro vai não mais a um pós-Lula, mas a um pós-Dilma, dado, naquele inconsciente coletivo, o passo adiante essencial, em que o eleitorado saiu do embalo continuísta e se divisa sem Lula o futuro imediato. Este avanço tem já o seu caminho feito, não volta atrás, e passa a cumprir um destino, como pede a nossa opção de mudança.
Jornal do Commercio (RJ), 8/5/2009