Mais um plano lançado pelo governo para responder às críticas de sua apatia pela agenda social. Depois do Fome Zero e do Bolsa-Família, que trouxeram mais problemas do que soluções para o próprio governo, vem agora o Prouni, destinado a democratizar o ensino superior. Ao contrário dos programas anteriores, que pelo menos eram bem-intencionados, mas impraticáveis, o Prouni tem um erro de origem, expressando um conceito primário de ensino.
O erro é considerar "carente" o aluno que não consegue determinada média nos cursos básicos. A reserva de cotas de negros nas universidades também é polêmica, mas tem lá a sua oportunidade, pelo muito que devemos aos nossos irmãos discriminados -discriminados, sim, mas não necessariamente carentes.
Abolir ou diminuir a média que habilita aos cursos superiores é agredir o conceito do mérito, que fundamenta até mesmo as sociedades que já tentaram viver sem classes. Todos devem ter oportunidade, essa é uma verdade tranqüila. Mas a oportunidade que deve beneficiar a todos tem como finalidade justamente a conquista do mérito.
Oportunidades iguais para todos, sim, mas o mérito é conquistado, e não imposto por decreto. Seria simples a um governo abrir a universidade para todos, inclusive aos analfabetos, que também não deixam de ser carentes.
Em algum ponto da trajetória de um carente haverá o momento de verdade, que será provocado e definido pelo mercado, que é cruel por definição e insensível por obrigação.
Mais humano seria ter o mérito avaliado ainda na fase escolar, quando o estudante poderá esforçar-se para obter o mérito que o habilitará a progredir não apenas no currículo escolar da juventude mas, no devido tempo, na fatia do mercado que escolher, onde não mais será um carente necessitado da piedade do Estado.
Será um profissional tecnicamente preparado para exercer seu ofício sem apelar para a carência ou para qualquer tipo de condenável preconceito.
Folha de São Paulo (São Paulo) 29/01/2005