Não se trata de um negócio da China, que a tradição assegura ser coisa boa, transação ao mesmo tempo rendosa e fácil. Recebo informações de diversas fontes garantindo que o século 21 será da China, como os séculos anteriores foram dos Estados Unidos e da Inglaterra.
Não tenho elementos para aceitar ou negar a afirmação. Que a China vem dando sorte, vem. Que é uma gigante que chegou a desbancar a produção dos nossos sapatos, as balanças comerciais confirmam. Como nada entendo de economia, atribuo o atual sucesso chinês ao fato de estar o país atravessando o ano do Cão do Fogo Vermelho. Com a vantagem de ser um ano que não dura 365 dias como o nosso, dura mais, obedecendo a um ciclo de 60 anos presididos pelos animais que visitaram Buda pouco antes de seu desaparecimento - uma vez que Buda não morreu: desapareceu, o que não é vantagem, muita gente aqui no Brasil desaparece por variados motivos.
Os animais homenageados são igualmente variados: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Galo, Cão, Porco ou Javali. E são associados a cinco elementos terrestres: metal, água, madeira, fogo e terra, cada qual com sua cor. Os chineses entraram no ano do Cão de Fogo Vermelho, que começou na segunda lua nova do solstício do inverno, que caiu no dia de ontem, 29 de janeiro.
No Brasil adotamos o calendário gregoriano. Não tem dado sorte. Não tivemos um Buda visitado por animais antes de seu desaparecimento, mas temos o jogo do bicho. Poderíamos criar ciclos de 24 anos, com os nomes dos animais sorteados pelo barão de Drummond que teria inventado a nossa loteria mais popular. Começaríamos com a águia e terminaríamos com a vaca, passando pela borboleta, pelo veado e pelo jacaré.
Não sei que animal presidiria este ano eleitoral. Lula é fruto do mar, não chega a ser animal. O único político de que neste momento me lembro é o Enéas, que também é Carneiro. Poderia dar certo.
Folha de São Paulo (São Paulo) 30/1/2006