De uns tempos para cá, a mídia decidiu adotar o politicamente correto e, além disso, evitar problemas na Justiça: jornais, revistas, rádios e TVs não classificam ninguém de traficante, ladrão, estuprador ou assassino. Na obrigação de informar crimes, sequestros, tiroteios e assaltos sexuais, o máximo a que chegam é à suposição. A polícia invade um morro e mata tantos supostos traficantes, que supostamente escondiam um arsenal supostamente de última geração.
Esse cuidado com a lei e com os fatos foi agora reforçado pelo Supremo Tribunal Federal: só se deve julgar após o último recurso na Justiça. Até lá, tudo não passará de suposições (ia dizer supositórios). Suponho que todos estejam supostamente certos.
Daí o meu espanto quando a mídia tratou do caso de uma brasileira que supostamente teria sido retalhada por supostos neonazistas na Suíça. Até mesmo Lula e o ministro Amorim embarcaram nessa, sem esperar que a suposição fosse confirmada ou negada.
Para o bem geral, não se chegou ao ‘casus belli’, a um caso de guerra contra aquele país supostamente pacífico, cujo Exército, se é que lá existe um (que não seja a Guarda Suíça que cabe toda no Vaticano), e cuja arma principal é aquele canivete também suíço, com diversas lâminas, abridor de lata, tesourinha de unha, chave de parafuso e alicate. Serve para mil e uma atividades. Supostamente serve para mutilar barriga e pernas de uma brasileira.É evidente que o caso requer uma investigação real, e não suposta, uma vez que os fatos estão embaralhados não de forma suposta, mas real. Por ora, manda a prudência que se espere a última palavra da polícia suíça e da Corte de Haia para formarmos uma posição política e juridicamente correta.
Folha de S. Paulo (SP) 17/02/2009