Os ganhos de Mitt Romney nas pré-escolhas republicanas já são o indício promissor de derrubada do espectro temido ao fim de 2011. Vai-se ao isolamento da extrema direita do Tea Party, de Rick Santorum, respondendo, afinal, a um sentimento político americano de rejeição dos extremos. Mesmo se o candidato a avançar não proponha nada, mude de convicção a todo mês e tenha uma convicção absolutamente doméstica da coisa pública. De toda forma, deparamos um freio contra esse sinal dos tempos das radicalizações, frente a este recado tenebroso da Nigéria, de agora, do movimento Baba Tunde, de radicalidade muçulmana, passando da instalação da Sharia, da perseguição frontal dos cristãos e judeus, da destruição dos templos e morte dos crentes. É a etapa, também, em que a Primavera Árabe escreve o seu primeiro epitáfio, na descrença da democracia, como o liame da convivência das nações africanas e do Oriente Médio, liberadas do seu autoritarismo pós-independência, no meio século passado.
El Baradei condena, de vez, o futuro das eleições egípcias, deparando o comando do processo pelas forças militares. O que estaria em jogo, entretanto, numa visão mais larga, é a contradição da consciência política desses Estados, ao se dar conta de que o último fruto da democracia será a islamização desses países e o risco da desaparição do laicismo. Não é outro o temor da Tunísia, ainda que o partido confessional vencedor não mantenha o mesmo perigo da Fraternidade Muçulmana, no Cairo, já associado ao pior radicalismo islâmico dos selafidas. O que importará, no novo paradoxo institucional, é o papel das Forças Armadas nesses territórios, como árbitros da liberdade religiosa, e instituições neutras da emergência da modernidade destes países. Esteia-se o Egito, no exemplo da Turquia, às, agora, vias de conflito com o governo, enquanto o exército, fiel à histórica revolução de Atatürk, é o contraponto ao islamismo de Erdogan, e à ameaça de uma torna ao Estado confessional.
A Primavera Árabe, de qualquer forma, sanciona, de vez, o paradoxo que leva a uma regressão pela democracia a um mundo de isonomias da fé, e inducente às "guerras de religião", num mundo emergente, obrigado a conviver sob pena, e ao ingresso, de vez, no terrorismo e na "civilização do medo".
Jornal do Commercio (RJ), 20/1/2012