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Cada vez mais atual

 

Há 31 anos, às vésperas do Natal de 1988 — exatamente às 18h45m do dia 22 de dezembro —, o Brasil perdia um dos mais importantes personagens de sua História moderna: Chico Mendes, o líder seringueiro que mobilizou o país e o mundo para a defesa da Floresta Amazônica.

Ele ficou famoso e respeitado por ter desenvolvido táticas pacíficas de resistência contra a ação violenta de latifundiários, madeireiros e dos projetos agropecuários que viviam da derrubada da floresta para substituí-la por pasto.

Por sua luta, Chico conquistou a admiração internacional (foi considerado pelo “New York Times” como um “símbolo de todo o planeta”) e foi o primeiro brasileiro a receber da ONU o Prêmio Global 500. Mas precisou morrer assassinado para ser reconhecido como um herói trágico, o protomártir da causa ambiental.

Papai Noel poderia aproveitar e dar de presente ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o excelente e oportuno livro “Chico Mendes —Um grito no ouvido do mundo”, recém-publicado, em que o sociólogo Nilo S. Melo Diniz mostra em profundidade como a imprensa, inclusive a internacional, cobriu a luta dos nossos Povos da Floresta.

Será útil para quem, em uma de suas primeiras declarações públicas como ocupante do cargo, fez questão de dizer que nunca tinha ido à Amazônia e que não sabia quem era o líder seringueiro que dá nome ao ICMBio, que está sob a responsabilidade dele, como ministro. Assim como existe a arrogância do saber, existe a ignorância arrogante, capaz de considerar “irrelevante” conhecer Chico Mendes e repetir as infâmias espalhadas por seus inimigos de que ele se beneficiou da causa que defendia, quando é notório que morreu pobre e por ela deu a vida.

No ano em que o país e o mundo estão sendo atingidos por tantas tragédias ambientais, em que o desmatamento da Amazônia aumentou quase 20%, batendo o recorde de quase duas décadas, a luta e as idéias de Chico Mendes são cada vez mais atuais. Matá-lo foi mais fácil do que fazer o mesmo com elas.

O Globo, 24/12/2019