Adoro ler os leitores de jornais, o que eles acham do que consomem diariamente nas diferentes seções dos diários que compram e leem. Às vezes comentam uma notícia, às vezes uma tendência que pode ser do país, de certos políticos ou de um jornalista que se destaca. Às vezes, trata-se simplesmente de um atacante que não faz mais gols. É mais divertido ler quem lê, do que ler o que é publicado todo dia.
Uma dessas colunas mais bem feitas é a que sai todo dia aqui no GLOBO. Os leitores desse jornal se manifestam sempre com muita propriedade sobre os assuntos tratados pelo diário, sem fazer necessariamente coro com ele e com uma originalidade que às vezes nos surpreende.
Vocês já devem ter percebido como nesses últimos tempos ando interessado na formação da Humanidade, como chegamos até aqui e mais os erros eventualmente cometidos por nossos ancestrais, bem como os impasses em que eles nos atiraram. Não estou dizendo (e nunca disse!) que está tudo errado; apenas preferia que certos movimentos tivessem sido evitados para não chegarmos a situações descabidas como essas a que chegamos no tempo presente.
Aí me vi diante de um desses equívocos humanos, acho que irreparável, e tentei entendê-lo melhor.
Eu queria muito que me explicassem como nos construímos como uma exceção valiosa na ocupação desse planeta, uma espécie singular e única, seres incomparavelmente superiores a qualquer outro que tenha se multiplicado na Terra e no entanto somos hoje responsáveis pelo fim do planeta que parece estar condenado à extinção.
Primeiro pela mudança climática e depois pelas consequências dela, diante da qual não tomamos nenhuma providência viável. A Terra está ameaçada de se extinguir, de se consumir nos erros que cometemos, e nós não estamos fazendo nada pra evitá-lo.
Isso tem até cara de ser uma decisão religiosa. Uma espécie de maldição original que está definitivamente engatada no nosso destino enquanto seres que preferem esperar por essa consequência do pecado do que tentar mudar o fim inevitável da nossa natureza. É como se os homens estivessem conformados com esse destino e não desejassem mudá-lo, não estivessem a fim de batalhar pela verdadeira salvação da espécie enquanto uma espécie nascida e criada para viver aqui, na Terra.
Dia desses li um texto nesse jornal, mais ou menos sobre este assunto. Um leitor enviava uma carta para a Seção de Leitores em que protestava contra a inépcia de todos nós, sem fazer qualquer tipo de distinção entre quem achava que era isso mesmo e os que ainda acreditam na correção de nosso futuro.
De certo modo, havia até um desejo de que chegasse logo esse dia da parte de quem pouco se importa. (Não vou dar o nome do leitor que é obrigado a assinar suas intervenções. Não é o caso. Ele, se quiser, que se entregue.) Mas nosso leitor se importava com essa perspectiva de futuro, mesmo reconhecendo sua participação no rumo dele. E isso talvez seja o que mais me impressionava em sua carta.
Havia na carta um sentimento de perda, uma concepção de existência vencida, uma derrota diante da qual não se pode fazer nada. Mas havia também uma revolta impotente, uma cobrança de tudo o que fizeram de nossas esperanças. Como se os responsáveis é que devessem pagar pelo acontecido. Mas os responsáveis somos todos nós, que nunca pensamos nisso ao longo dos anos em que podíamos intervir.
Semana que vem sigo falando sobre esse assunto. Por enquanto, não temos mais tempo ou espaço para isso. Até lá.
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