O apuim-de-costas-pretas voltou a ser encontrado na Floresta da Tijuca. Quem anuncia o festejado evento de danças e celebrações é a primeira página dos jornais, materializando nosso desejo de paz e muita alegria nas florestas onde o tal periquito voltou a voar.
O jornal acrescenta que os ornitólogos estão surpresos e, com eles, os meninos que passeiam e brincam na floresta, cantando e dançando para que tais aves raras não desapareçam mais. O apuim-de-costas-pretas voltou para ficar, não vai mais sumir de novo. Ele descobriu que é suficientemente amado, não precisa procurar outras paragens.
Enquanto a Natureza se organiza para durar mais, as guerras pipocam por aí, introduzindo novas tragédias na história humana deste planeta.
Leio também que os homens jovens estão ficando mais conservadores, que a idade deles não serve mais de pretexto para a conciliação. Muito pelo contrário. Quanto mais velhos, menos conservadores; mais eles se expõem à reação descontrolados diante do que não amam ou de quem acham que não são amados. Nesse embate entre a Natureza e o que é Humano perde o planeta, o futuro do que sempre pretendemos construir aqui com a aliança sagrada entre o que aparentemente não se mexe e nós mesmos, os periquitos apuim de volta às árvores e à dança.
Mas nunca de fato voltamos à festa de viver. Sempre estivemos de frente para nosso extermínio, quanto tempo duraríamos seguindo o mesmo rumo de sempre. Para ficarmos com melhor parte do alimento planetário, decidimos habitar as florestas como nossos antepassados. Com eles disputamos nosso espaço à mesa, o tamanho de nosso alimento e, para compensar nosso fracasso inicial, a surra que estávamos levando de quem estava por aqui muito antes de nós, introduzimos a melancolia das vitórias por causa das armas e instrumentos técnicos que começamos a usar.
E chegamos aos aparatos da Tecnologia, esse mistério da fixação entre os limites do corpo e os desejos da alma. Ou simplesmente do desejo, que é o que sempre nos moveu.
Pensamos então em controlar o que se passava diante de nós, o caos antes da criação, antes da invenção do que é que nos servia. Tentamos eliminar a distância entre o ser humano e a Natureza, para que tudo fosse uma coisa só e, sendo tudo uma coisa só, fosse mais fácil, mais viável submetermos o que não fôssemos nós.