Esta parece ser a saída dos partidos tradicionais para a disputa presidencial de 2018. A pesquisa CNT/MDA que mostra Lula à frente de todos os seus adversários, pela primeira vez até mesmo no segundo turno, traz de volta a esperança da esquerda de que “o retrato do velho” seja recolocado nas paredes oficiais. Outra pesquisa constatou que existe uma “saudade de Lula” latente em grande parte do eleitorado, o que completaria o cenário favorável à sua volta.
Outra novidade preocupante para o PSDB, tradicionalmente o adversário do PT nas últimas eleições: o deputado Jair Bolsonaro aparece em segundo lugar em todas as pesquisas, empatado com Marina Silva. Os potenciais candidatos tucanos, o senador Aécio Neves e o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, aparecem em quarto lugar.
O presidente Michel Temer não dá sinais de que terá condições de tornar-se alternativa viável. Nem Lula nem Marina nem Bolsonaro são exatamente “o novo”, mas, cada qual à sua maneira, consegue passar para o eleitorado a sensação de que representa a anti-política, embora todos sejam políticos profissionais há muito tempo na estrada.
A pesquisa foi realizada nos dias marcados pela morte de dona Marisa Letícia e seu velório, o que levou para Lula uma dose extra de sentimentalismo. Apesar de todas as denúncias contra ele, Lula mantém, especialmente no nordeste, uma popularidade que garante a seu nome o apoio de 1/3 do eleitorado, marca que o PT sempre teve historicamente.
O que mostra que os adversários unidos poderão derrotá-lo, especialmente se o PSDB e PMDB estiverem no mesmo barco. Bolsonaro, apesar de surgir a esta altura com uma votação expressiva, não parece ter condições de ser uma alternativa, mas certamente será um importante player no jogo que começará a ser jogado ainda neste 2017.
Lula, se conseguir chegar a 2018 mantendo sua elegibilidade, acaba com a possibilidade de Ciro Gomes se apresentar pelo PDT, e por isso Ciro será lançado candidato o mais cedo possível. O discurso do PDT é que a candidatura de Lula será um desserviço, pela dificuldade que ele terá na campanha, se não for condenado em segunda instância. A crise econômica, o desemprego, todas as pragas que castigam a população, estão sendo atribuídas ao governo Temer pelo PT, mas uma campanha eleitoral pode desmascarar essa estratégia.
O governador Geraldo Alckmin, que não aparece à frente de Aécio, está trabalhando onde o PSDB é fraco: no mesmo nordeste onde o presidente Michel Temer tem sua pior avaliação. Ambos estão procurando caminhos para entrar na região em que Lula domina boa parte do eleitorado. Alckmin está viajando para Pernambuco e Paraíba para ver de perto o canal de transposição do Rio São Francisco que o governo de São Paulo está ajudando a tornar realidade com empréstimo de bombas.
Os quatro conjuntos de bombas flutuantes, cada um com capacidade de bombear até 2.000 litros de água bruta por segundo, que serviam à Sabesp, foram cedidos ao Ministério da Integração Nacional. Transportadas para Floresta (PE), no eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco, as bombas estão no reservatório de Braúnas. De lá, a água captada seguirá para a represa de Mandantes, no mesmo município, chegando a Monteiro, a primeira cidade paraibana a ter o abastecimento reforçado, com cerca de 30 mil habitantes.
Seu principal adversário dentro do PSDB, o senador Aécio Neves, não se preocupa com a pesquisa que mostra Lula na frente, e considera que o PT voltou ao seu tamanho original, sem condições de vencer um segundo turno. Não considera prudente a definição do candidato do partido no final deste ano, como propõe o governador Geraldo Alckmin, e como presidente do PSDB vai tentar que a definição fique para o início de 2018, para testar o ambiente político até lá.
Aécio Neves considera que a economia vai melhorar até lá, dando um novo ânimo ao eleitorado. Mas admite que o ambiente político atual exige a apresentação de candidatos novos, sem querer falar em nomes, mesmo porque diz que não sabe o que pode acontecer.
A busca do novo provoca situações inusitadas. Assim como Fernando Henrique corria o risco de não se eleger deputado federal antes do Plano Real, o ministro da Defesa Raul Jungman, que é suplente de deputado federal, já está sendo visto como alternativa ao surgir como a imagem sóbria da manutenção da lei e da ordem em diversos pontos do país.
O feeling político de João Dória faz com que ele se coloque na pista, embora seja muito cedo para saber se conseguirá manter o êxito desse primeiro mês na prefeitura de São Paulo. Por via das dúvidas, em qualquer oportunidade faz críticas a Lula, assim como Ciro Gomes critica Temer e Fernando Henrique.