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A busca do nome

 

Uma eleição sem favoritos viáveis, já que Lula depois do julgamento em segunda instância pelo TRF-4 pode ficar inelegível, faz com que os partidos políticos lancem mão de planos alternativos. Não apenas o PT se prepara para ter que trocar seu candidato, que lidera as pesquisas eleitorais, como também o grupo aliado ao governo tenta encontrar uma candidatura viável para manter-se no poder.

Como disse outro dia o presidente do PMDB, senador Romero Jucá, sem Lula, a disputa “vai ter político, outsider, artistas, malucos”.Fora os “outsiders, artistas e malucos”, os bastidores políticos estão movimentados.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já avançou várias casas em dias recentes, aparecendo na propaganda eleitoral do PSD como defensor do governo Temer. O problema maior dele não é nem a falta de carisma. Ele só se viabilizará se a economia melhorar a tal ponto que reverta a impopularidade do governo. Nesse caso, porém, o próprio presidente Temer se consideraria habilitado à disputa.

Um plano alternativo em gestação é a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o apoio da máquina partidária da base aliada do governo, mas depende de o PMDB desistir de ter candidatura própria. Por enquanto, Rodrigo Maia continua disposto a se reeleger deputado federal para manter a presidência da Câmara na nova legislatura.

O provável candidato do PSDB, o governador paulista Geraldo Alkckmin, às voltas com denúncias na Operação Lava Jato, não consegue decolar. E as pesquisas de opinião não refletem o poderio tucano em São Paulo, que já foi enorme, tanto que deu 7 milhões de votos de vantagem ao candidato tucano Aécio Neves na eleição de 2014, e a vitória de João Dória à Prefeitura de São Paulo no primeiro turno.

Por isso o partido já está às voltas com novas dissidências, seja o prefeito de Manaus Arthur Virgilio, que já desafia Alckmin publicamente, ou novo movimento a favor do prefeito João Dória.

O plano B do PT seria ou o ex-governador Jaques Wagner ou o ex-prefeito Fernando Haddad, mas nos últimos dias surge a idéia de fazer do empresário Josué Gomes, filho do ex-vice de Lula José de Alencar, uma solução que coloque o PT e Lula novamente em sintonia com o empresariado nacional e a classe média, por enquanto perdida para os petistas.

A idéia é convencer Josué a ser o vice de Lula, reeditando a mensagem da campanha de 2002 com seu pai na chapa vitoriosa então. Na qualidade de vice, Josué Gomes acompanharia Lula em todos os palanques pelo país enquanto o ex-presidente disputaria na Justiça a manutenção de sua candidatura.

Se a condenação do TRF-4 for por unanimidade dos três desembargadores, os prazos recursais se encurtam, não cabendo os chamados embargos infringentes, que têm o poder de mudar a decisão do tribunal de recursos com um novo julgamento do qual participarão os três desembargadores da 8 Turma do TRF-4 e mais quatro juízes de outras turmas.

Por isso as últimas horas foram marcadas por pressões sobre os desembargadores de Porto Alegre, públicas como as de Lula quase que exigindo o reconhecimento de uma inocência que ele alardeia, e privadas, com tentativas de aproximações com membros do Judiciário, abrangendo até mesmo o STF e o STJ.

A tentativa é, já descrentes de uma absolvição, conseguir uma condenação não unânime, que permita alongar o prazo de apelação. Embora o TRF-4 tenha rejeitado a grande maioria dos embargos infringentes, esse processo leva bastante tempo, o que daria chance a Lula de chegar à convenção do PT em 20 de julho para ser declarado oficialmente candidato à presidência da República.

Como a propaganda eleitoral pela televisão começa a 31 de agosto, a luta será tentar chegar lá com Lula ainda não impugnado em definitivo. O empresário Josué Gomes estaria sempre ao seu lado e, até 20 dias antes da eleição, caso o impedimento de Lula seja definitivo, ele seria lançado à presidência com o apoio do ex-presidente.

Caso desse certo essa estratégia, seria a primeira vez em que um candidato a vice assumiria a presidência sem que o titular a tivesse exercido, mais uma novidade da política brasileira. Os planos de Josué, no momento, são outros. Ele quer disputar uma vaga ao Senado pelo PMDB, em coligação com o PT de Minas. Se aceitar ser vice de Lula, terá que mudar de partido, e isso tem que acontecer até abril do próximo ano. 

O Globo, 23/12/2017