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A burocracia brasileira

 

Estou, nestes últimos meses, escrevendo um livro, provavelmente a minha despedida dos produtos impressos, sobre um dos maiores males de que sofre o Brasil, a burocracia. Para se ter uma idéia, a maior impressão que me causou a informação de Paulo Maluf, quando no governo e eu, com mais três companheiros, ocupava o lugar de seu assessor especial, com reunião diária de três horas, foi exatamente dessa terrível moléstia, que lhe come as fibras mais fortes de seu organismo.


Em todos os países da terra, inclusive alguns da África, como a África do Sul, o Senegal e a Costa do Marfim, para citar os que me vêem à memória, a burocracia é mínima. Aqui, o infeliz exportador, que tem de vender a sua mercadoria, receber o dinheiro da venda e comprar outras, para manter a rotatividade de seus negócios, tem que ser de circo, pois tudo lhe consome dias e dias de trabalho, de idas e vindas às repartições e, sobretudo, no encalhe proposital na Alfândega, o entrave da dificuldade maior.


Tenho exemplo de mercadorias que ficam tanto tempo na Aduana seca ou molhada, não importa, em que as despesas de armazenagem, o tempo de permanência na repartição, a indiferença dos funcionários pela sorte do comerciante que, quando liberadas já estão, em muitos casos, fora de moda, se forem de moda e de uso, se forem destinadas à preparação de outras mercadorias, com as quais o comerciante enfrenta o mercado mundial ou, mesmo, nacional.


Esse é um dos males do Brasil, que, adicionado a outros, uns quarenta os relacionei eu, fazem da tarefa de comerciante, importador e exportador, principalmente, ou simplesmente comprador para a venda direta ao consumidor, esse mal vem atrasando o Brasil e tornando a função de comerciante de qualquer categoria um verdadeiro suplício, ao qual os funcionários pagos pelos contribuintes não dão a mínima importância. No dia em que acabar esse mal, certamente chegaremos perto dos Estados Unidos, como potência de primeira grandeza. Mas quantos anos devem as atuais gerações esperar? O infinito, se tudo continuar na mesma?


 


Diário do Comércio (São Paulo - SP) em 08/03/2004

Diário do Comércio (São Paulo - SP) em, 08/03/2004