Comentei ontem o discurso exaltado e eleitoreiro do presidente Lula em Garanhuns, ameaçando céus e terras, dizendo que terão de engoli-lo, mas sem especificar quem saciará a fome à custa de suas viandas. No mesmo discurso, ele se refere à crise política que traumatiza a nação como "brincadeira de mau gosto".
Que é de mau gosto, concordo com ele. Os entendidos em TV reclamam do mau gosto da maioria dos programas exibidos na telinha. E as sessões nas CPIs não ficam atrás, em momentos de pique superam os pastelões mais escrachados, não pela forma com que se apresentam (são até corretos e legítimos), mas pelo conteúdo.
Quanto à brincadeira a que o presidente Lula se refere, só pode ser brincadeira dele mesmo, que até agora não caiu na real e se recusa a ver a lama que o rodeou durante dois anos e meio de mandato e agora ameaça tragá-lo de forma irrecuperável.
Brincadeira a dele, sim, indo a comícios eleitorais antecipados e passando para o povo a balela de que tudo vai bem, com o governo trabalhando para dar dignidade e serviços a todos, principalmente aos pobres. A realidade é que no Brasil nunca houve um canteiro de obras paralisadas tão monstruosamente grande.
Brincadeira também a de se investir candidato à reeleição e iniciar a campanha não mais com dinheiro de Valério e Delúbio, mas com dinheiro público, que lhe paga viagens, refeições, caminhões para arrebanhar platéia, faixas e carros de som. Tudo isso custa caro, tão caro que o PT ficou na lona, apesar das contribuições que Valério descolou até em Portugal.
Quem está bancando esse início de campanha eleitoral, sem concorrente ainda à vista, é a burra da nação. E, ao usar o nome arcaico de "burra" como sinônimo de cofre, banco, patrimônio, sem querer estou usando uma palavra lamentavelmente adequada.
Folha de São Paulo (São Paulo) 07/08/2005