Nos tempos pré-internet, eram três os pilares das “estruturas de poder” que viabilizavam uma disputa eleitoral exitosa para presidente da República: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais e políticos populistas na periferia e a classe média urbana escolarizada. Esses grupos influenciavam as eleições desde a redemocratização, e foi por isso que Fernando Henrique procurou o PFL, não apenas para governar, mas para vencer a eleição, pois o partido era formado pelas oligarquias nos grotões.
O PSDB conquistou a classe média escolarizada e as capitais com o Plano Real e uma postura ética que se contrapunha ao PT. Venceu duas eleições no primeiro turno e disputou o segundo turno em quatro outras. A partir de 2014, quando quase derrotaram o PT, os tucanos perderam o rumo de casa, passaram a votar contra os próprios fundamentos do Plano Real, aproximaram-se excessivamente do governo Michel Temer e acabaram marcados pela relação promíscua de seu líder Aécio Neves com empresários corruptos, perdendo a aura de defensores da ética.
A verdadeira revolução político-partidária provocada pela vitória de Jair Bolsonaro na eleição presidencial em 2018 teve como bases o uso da internet como instrumento político-eleitoral e a transferência do eleitorado tucano em massa para aquele que se apresentou como alternativa para derrotar o PT, jogando justamente no terreno da defesa da ética na política, do combate à corrupção e de uma economia liberal. Parte desse eleitorado está hoje órfã, em busca de alternativa, por isso nunca houve chance tão clara de que uma terceira via seja trilhada.
Se o PSDB conseguir sair dessas prévias com uma unidade política razoável, talvez volte a ser essa alternativa, mais provavelmente com Eduardo Leite, que reflete o paradoxal novo na política, pois defendeu Bolsonaro em 2018 e hoje é apoiado por Aécio Neves. Já o governador João Doria mescla o bom gestor com o político aguerrido, que acredita que pode representar o eleitorado paulista na Presidência. O PSDB costumava sair de São Paulo com uma diferença entre 5 milhões e 7 milhões de votos, e essa tem de ser a meta, difícil de alcançar hoje.
Minas é um retrato estatístico do Brasil, e as eleições provam que quem vence em Minas vence no Brasil. Aécio apoia Leite, mas é inimigo de Doria. Se não se acertarem depois, será difícil vencer a eleição. Em São Paulo, se Eduardo Leite vencer as prévias, é possível que Geraldo Alckmim continue no PSDB, fortalecendo os tucanos.
É nessa brecha entre os órfãos de Bolsonaro e os dos tucanos que o ex-juiz Sergio Moro pode se criar. Já aparecendo nas pesquisas em terceiro lugar, na frente de Ciro Gomes, o objetivo de chegar ao próximo ano na casa dos 15% parece factível. Já está sendo atacado pelos dois lados. Bolsonaro disse que Moro nunca se mostrou confortável em seu governo, e o ex-ministro Ricardo Salles simplesmente chamou-o de “comunista”. Os petistas dizem que ele e Bolsonaro são a mesma coisa e o acusam de ter perseguido Lula, tese corroborada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao declará-lo parcial, anulando todos os processos, inclusive aqueles em que Lula fora condenado, mas não o inocentando.
A união de Bolsonaro com Valdemar Costa Neto e o PL tornou-se coerente com o tipo de governo praticado. Bolsonaro fará com que o PL se transforme no maior partido da Câmara, garantindo o maior fundo partidário e uma bancada importante no Congresso.
Um partido envolvido em todos os casos de corrupção de que tivemos notícia nos últimos anos, como petrolão e mensalão, com seu “dono” tendo sido preso. Poderá fazer uma campanha rica, com bastante tempo de televisão. Num partido grande e com capilaridade, o Bolsonaro de 2022 terá condições de ser competitivo, pois nos grotões estão 44% do eleitorado, em municípios de até 50 mil eleitores, e, nesses “campos de batalha”, são as máquinas partidárias que atuam.
Todas essas especulações valem para o caso de se confirmar que Lula já está no segundo turno, e a disputa é pela segunda vaga. A conferir.